Breve reflexão sobre as gerações Baby Boomer, X, Y, Z e Alpha – Anseios, desafios e possibilidades

Por Polyana Luiza Morilha Tozati em

Essa geração está perdida…”, eis a representação do clássico conflito de gerações. Como lidar com esse desafio quando vem acompanhado de redes sociais, “procura no Google” e “ctrl c e ctrl v”?
Buscando compreender algumas queixas e dúvidas psicológicas frequentes nos últimos anos, é necessária uma breve análise sobre as transformações sociais, comportamentais, tecnológicas e de consumo verificadas nas últimas décadas. Essas alterações têm tido repercussões no que se convencionou chamar de gerações que vão desde os “Baby Boomer” até os “Nativos Digitais”.
Os termos gerações baby boomer, X, Y, Z e recentemente a Alpha, foram traçados a partir de nichos de mercado, ou seja, padrões de consumo estabeleceram perfis comportamentais, que posteriormente foram incorporados pelas Ciências Humanas e Sociais.
Em períodos anteriores, o intervalo das gerações era definido a cada 25 ano mas, nas últimas décadas, após as grandes guerras, esse intervalo vem diminuindo e atualmente já se pensa em 10 anos separando cada geração. Essa subtração de anos entre as gerações tem trazido conflitos e anseios para as pessoas nas diferentes faixas etárias.
O marco que distingue cada geração, no entanto, é um pouco controvertido, mas é possível delinear seis gerações específicas, a maioria designadas por letras do alfabeto, tendo a tecnologia e o consumo como um importante fator de aceleração e demarcação. Sem esquecer, no entanto, que perfis apenas indicam características grupais que não devem rotular, reduzir ou empobrecer a individualidade de seus componentes mas, apenas, sugerir indicadores para análises.
A geração Baby Boomer (1946 a 1964) é assim denominada por ter sido originada do aumento súbito de nascimentos desencadeados após o término da Segunda Guerra Mundial, quando os soldados retornaram aos seus lares, imbuídos dos ideais de paz e pelo anseio de prosperidade e segurança. Por serem frutos de um mundo ameaçador, imprevisível e fragmentado por guerras e separações, os baby boomers valorizam a estabilidade, o emprego fixo, carreiras sólidas e crescimento profissional, conquistados a partir de muito esforço e dedicação, proporcionando a aquisição de bens materiais, status e estabilidade financeira. Apresentam, portanto, um apreço pelas hierarquias e pelo respeito às figuras de autoridade, um maior engajamento político e um apego pela permanência e previsibilidade.
Aproximadamente, na década de 60, surgiu a controvertida geração “X” (1965-1977), assim denominada pela grande incógnita que representava, ao romper com a rigidez de seus antecessores, propondo um equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, valorizando a qualidade ao invés da produtividade, questionando os papéis sexuais, usufruindo do consumo e do conforto gerados pelos equipamentos eletrônicos, apresentando-se ainda adeptos das regras e do dever, mas já um pouco mais irreverentes, questionadores, almejando por mudanças sociais.
A geração Y (1977 – 2000), também conhecida como Millenium, nascidos na era digital, são filhos da geração X e netos dos Baby Boomer, podendo usufruir da estabilidade financeira dos avós e da frouxidão de limites de seus pais. Essa geração aprecia a informalidade, o trabalho em equipe, autoridades legítimas, considerando a realização profissional mais importante do que a segurança financeira. As redes sociais começam a adquirir destaque e o acesso à informação a ser facilitado pela tecnologia, tornando-os mais imediatistas, práticos e consumidores mais ávidos por novidades e transformações.
A geração Z (2000-2010) é altamente conectada, cujo nome, inspirado em “zapear”, advém da necessidade de trocar de frequência, de canal ou de conteúdo, sempre que o espetáculo apresentado não esteja agradando a audiência. Esse predomínio do querer, saturado de oportunidades e escolhas, intensifica o imediatismo e a urgência da inquieta geração Y. Esses anseios de consumo e volubilidade já estão contaminando a próxima geração, a mais recente, que na convenção alfabética, já vem sendo chamada de Alpha, nascidos a partir de 2010.
A intenção da presente discussão não visa se deter nas características das diferentes gerações, uma vez que a própria internet está repleta de material teórico de alta qualidade sobre isso. O propósito do texto é refletir sobre algumas angústias e desafios emocionais advindos dessas interações sociais e familiares,
As diferentes expectativas e os modelos, muitas vezes antagônicos, de lidar com o planejamento e gerenciamento da vida, são responsáveis por muitos desencontros emocionais, decepções e distanciamentos entre educadores, pais e filhos (as). Administrar essas diferenças requer compreender no que implicam, aceitando que as diferentes gerações partem de premissas diversas para orientar suas escolhas, principalmente as profissionais. Ascensão profissional, realização, status ou sucesso são aspirações distintas que, às vezes, podem coexistir, mas que são norteadas por valores e aspirações que necessariamente não estão atreladas a dinheiro, segurança financeira ou à conquista de bens materiais. Equacionar, portanto, subsistência, talento e realização profissional, é tratar de uma questão que, quanto mais distantes as gerações se encontram, como a X e a Z, mais complexo se torna esse equilíbrio. Lembrando que segurança era uma necessidade da Baby Boomer e da X, já a criatividade, desafio e satisfação são necessidades das suas sucessoras, Y e Z.
O grande embate da escolha profissional, no entanto, não se resume ao estilo de gratificação que será obtida, se financeira ou pessoal, mas também incide sobre o curso universitário a ser eleito, uma vez que muitas instituições acadêmicas e necessidades de mercado tradicionais estão sendo modificadas em suas perspectivas, ou seja, profissões que antes eram garantias de sucesso, já não oferecem a mesma segurança e certeza. A modernidade está exigindo novas competências, ainda imprecisas, para adesão a um mercado de trabalho mutável, que prevê o surgimento de profissões inovadoras, que ainda estão por ser constituídas.
Dentro da perspectiva da satisfação e da realização, seja profissional, pessoal ou familiar, o conceito de “felicidade” tem sido desafiador, uma vez que passou a se constituir como um ideal na era romântica do século XIX, encontrando-se atualmente, excessivamente atrelado a capacidade de consumo, cuja estratégia para captação de consumidores é a de transformar desejos em necessidades, estabelecendo que feliz é quem tem seus desejos atendidos.
A ideia de felicidade igualmente está equivocadamente sendo atrelada ao “aparentar”, potencializada pelo uso das mídias sociais, encantando as gerações de Y a alfa e gerando decepções e frustrações ao estabelecer comparações entre beleza, sucesso, pessoas e postagens. O investimento na imagem e no poder não é uma invenção da era tecnológica, mas o universo virtual potencializa esse anseio humano de ser reconhecido e “curtido”.
A superficialidade do conhecimento, a quantidade e velocidade das informações, a instabilidade das relações, a modificação das expectativas sociais, têm constituído a ideia de “mundo líquido”, de Zygmunt Bauman, um mundo que se opõe às ideias “sólidas” e seguras vigentes até então. Logo, essa progressiva fluidez vem impactando as últimas gerações e tornando as fronteiras cada vez mais difusas e próximas.
Essa proximidade das gerações, igualmente, está despertando tanto ideias românticas, quanto depreciativas e equivocadas de uma geração em relação a outra. Uma das mais evidentes, é a ideia da Y e da Z de que os seus antecessores (Baby Boomer e X) são “limitados”, assim como para esses, o desempenho e desembaraço tecnológico de seus sucessores os tornam “geniais”.
No tocante à suposta genialidade, muito se enaltecem as proezas da geração nascida na era digital e a facilidade com a qual desvenda e domina os segredos do universo virtual, fazendo muitos adultos e pessoas maduras esquecerem que a quantidade e agilidade das informações, não supre, nem os capacita a necessariamente lidar de forma construtiva e saudável com suas emoções e sentimentos. Inclusive, as expectativas e veladas exigências dos “mais velhos” pressionam e intimidam os jovens, que se sentem obrigados a serem descolados, apesar do medo e das inseguranças com as quais convivem.
À princípio, no campo da afetividade, não foram detectadas emoções ou sentimentos distintos daqueles que desafiam a humanidade há séculos, como amor, raiva, medo, tristeza e suas variações. Portanto, a geração Z se vê prisioneira e desafiada pelos mesmos enigmas e conflitos das gerações anteriores. A peculiaridade, no entanto, dessa geração Z, parece estar na dificuldade em lidar com a frustração, talvez decorrente da agilidade com a qual seus desejos, ao menos de consumo de informações, são realizados, bem como, pela proteção que a geração Y achou por bem envolvê-la para que, supostamente, “não passassem pelas mesmas privações e dificuldades”.
A agilidade das redes sociais tem trazido embaraços não somente para os jovens, mas para as gerações maduras também, pois ambas estão sujeitas à impetuosidade e ao destemor com que “indiretas” e insultos podem ser endereçados a desafetos em qualquer hora e lugar, um problema para os impulsivos de todas as gerações.
No campo do enamoramento, a armadilha para os mais jovens é a de estabelecer relações virtuais com personagens imaginários e, para os mais velhos e nostálgicos, é a possibilidade do instantâneo resgate aos amores mal resolvidos do passado que, na maioria das vezes, deveriam permanecer onde estavam, somente na memória.
A solidão é outra faceta controvertida no mundo virtual: ao mesmo tempo que pode entreter e aproximar, pode intensificar o isolamento, dependendo das demandas emocionais de quem está comandando o teclado. Aliás, é preciso não esquecer que a internet é apenas um instrumento e que seu uso, construtivo ou não, depende de cada internauta.
Há ainda muitos questionamentos a serem feitos, sem idealizações ou depreciações, cientes de que cada geração enfrentou e enfrenta seus fantasmas e que não se trata de comparar para estabelecer julgamentos, mas de entender as diferenças para integrá-las e aproveitá-las.
Lembramos que essas mudanças são muito recentes em termos de história humana, portanto pouco se sabe para tirar conclusões; mas esse momento de transição oferece um rico manancial para tecer considerações e aprofundar investigações, principalmente no âmbito sóciopsicológico. Nesse contexto de complexidade e incertezas, falar da geração alpha é estar atento para observar a composição da história, em tempo real e virtual, pois estão aí nossas crianças, nascidas a partir de 2010 e que, ainda no jardim e no ensino fundamental, estão trocando brincadeiras por tablets e celulares.

Categorias: Reflexões

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