Ansiedade – Quando se torna tóxica??

Por Polyana Luiza Morilha Tozati em

A ansiedade vem ganhando tanta popularidade, que “ser ansioso” está adquirindo status de normalidade e se tornando uma resposta pronta para abarcar uma série de emoções distintas num arranjo único e sob uma denominação confortável e socialmente aceitável. Ser ansioso é algo como ser moderno e antenado e nos possibilita falar indiretamente de algumas dores emocionais sem precisar lidar diretamente com elas.
A Ansiedade está ligada ao medo, às incertezas, à nossa vulnerabilidade, sentimentos nada confortáveis numa sociedade que exige desempenho, logo dizer-se ansioso é uma forma socialmente aceita que nos permite externar, sem que sejamos julgados por isso, que “não está fácil!”
Mas entre um certo modismo e o sofrimento real de ser dominado pela ansiedade, há uma escala que varia da ansiedade leve, moderada até atingir a ansiedade patológica ou tóxica. A ansiedade está relacionada, portanto, ao que “está por vir”, a algo que iremos vivenciar, seja um evento agradável ou ruim, mas que ainda está no território das expectativas, do não consumado e, desta perspectiva do imponderável/indômito é que decorre o estado ansioso.
Necessária e desejável para que fiquemos alertas ao que virá, passa a se tornar tóxica quando começamos a literalmente sofrer por antecipação, quando este “alerta” vai se transformando em ameaça, mesclada a sensações pessimistas que variam de pequenos fracassos a grandes catástrofes.
A ansiedade pode ser agravada se já tivermos guardado em nosso arquivo mental, em nossas memórias, alguma vivência realmente negativa relacionada a situação que está nos gerando ansiedade, e, como nossos arquivos no Google, muitas janelas podem ser abertas a partir da ansiedade presente. Por exemplo, se já tivermos vividos diversas situações de rejeição, tendemos a ficar ansiosos ao perceber que corremos o risco de sermos novamente rejeitados, e, por esta rejeição antecipatória, podemos provocar um abandono que talvez nunca viria a ocorrer ou, em outras palavras, às vezes temos tanto medo de sermos rejeitados que, por ansiedade, rejeitamos antes ou provocamos situações que levam o outro a nos rejeitar. Trata-se de nossas vivencias passadas mal resolvidas definindo nosso presente e comprometendo nosso futuro, com a conhecida ideia do “Eu já passei por isso e não quero que se repita”.
Uma vez desencadeados, portanto, estes são os sinais de alerta da nossa mente, sejam eles novos ou antigos, reais ou imaginários, reações adversas em cadeia podem que desencadear taquicardia, falta de ar, suor, náusea, dores abdominais, mãos geladas, formigamento, pequenos tremores, acrescidas de dificuldade de concentração e memorização, instabilidade emocional, com maior irritabilidade e medo impreciso e generalizado.
A intensidade destas reações, a capacidade de lidarmos com elas e o grau de limitação que traz as nossas vidas, definirá se precisaremos ou não, recorrer a ajuda especializada, ou seja, quando a ansiedade passa a comprometer as atividades diárias, incapacitando a pessoa de cumprir com suas responsabilidades, já está caracterizando ansiedade patológica, necessitando, muitas vezes, de intervenção medicamentosa e acompanhamento psicoterápico.
Igualmente, sempre que falamos de dificuldades emocionais, também precisamos ter em mente que a autopercepção e a compreensão de nosso funcionamento psicológico, são fundamentais para desativar alguns mecanismos que mantem e fortalecem a situação conflitiva. No caso da ansiedade, é muito comum que se apresente em pessoas controladoras, que no afã de tentarem controlar pessoas e situações, acabam se exaurindo e dispersando seu foco, mantendo-se permanentemente pré-ocupadas sem lograrem atingir seus objetivos.
Outra faceta comum ao ansioso, é o comportamento reativo, no qual a pessoa se sente compelida a responder à altura em qualquer situação na qual se sinta envolvida e, ao sermos reativos, estamos sempre à mercê do meio, em outras palavras, achamos que não podemos deixar nenhuma demanda ou exigência sem nos posicionarmos ou tomarmos uma atitude, e, passamos a reagir a questões que, inclusive nem nos dizem respeito. Passar de reativos para defensivos, é apenas um passo, bastando para tanto, interpretar o comportamento das pessoas e os acontecimentos ao nosso redor como um complô contra nós, do qual precisamos nos posicionar e defender.
Ainda, há o perfeccionismo, outra tendência bastante característica do ansioso que acaba por sucumbir nas suas próprias exigências, na maioria das vezes, infrutíferas e debilitantes. Dentro da armadilha das obrigações, também está sempre presente o “Ter que…”, aquela cobrança permanente de que deveríamos ter caprichado mais, realizado mais, feito mais do que fizemos, nos deixando sempre em falta ou devedores de algo que não conseguimos identificar, mas que nos enreda na armadilha da permanente insatisfação conosco mesmos.
A convivência com pessoas ansiosas também pode nos deixar ansiosos, uma espécie de contágio, e as crianças são as mais vulneráveis, ou seja, adultos ansiosos costumam criar uma atmosfera ansiógena, prejudicial para os filhos ou educandos. Caberia ressaltar que ansiedade não se apresenta somente naquela pessoa agitada e inquieta, mas muitas vezes, se pode notar em pessoas aparentemente calmas e pacatas, que dirigem sua ansiedade para dentro, mas que mesmo sem transparecerem sua ansiedade, contaminam o ambiente da mesma forma, com uma atmosfera expectante e indiretamente aflitiva, repercutindo a silenciosa ameaça de que uma erupção está por vir.
A ansiedade é cumulativa, logo vamos acumulando pequenas perturbações até que, de repente, passamos a ter uma crise de choro ou nos descompensamos ao derramar o leite por exemplo, ou seja, somos levados à atitudes desproporcionais frente a situações banais, algo como “a gota d’água num copo já repleto”.
Entender portanto como funcionamos é um dos primeiros passos para desativar a ansiedade, compreendendo como chegamos a um estado de exaustão ou paralisia, para podermos desativar os mecanismos que nos mantem neste estado. Buscar diminuir nossas auto cobranças, aceitando nossas limitações e respeitando nossos ritmos, podem nos libertar da armadilha das exigências. Para tanto, revermos nossos valores para estarmos conscientes e em paz com nossas escolhas, sem nos contaminarmos com as demandas de uma sociedade consumista e imediatista, que prima pelo discurso do “Você tem que…precisa ser…” desta ou daquela forma, pode nos dar a liberdade de sermos seres autênticos e autônomos, não nos reduzindo a autômatos das incongruentes ditaduras sociais.

Categorias: Reflexões

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