Chantagem Emocional Quando em quem confiamos…nos manipula!!

Por Polyana Luiza Morilha Tozati em

Chantagem emocional, segundo S. Foward trata-se de “uma forma poderosa de manipulação na qual as pessoas mais próximas de nós ameaçam, direta ou indiretamente, nos punir se não fizermos o que eles querem.” (1, p. 11) Logo a chantagem emocional sempre envolve pessoas que nos são caras ou cujo julgamento nos são significativos. Muitas vezes, são pessoas que realmente acreditam nos amar e que estão inconscientes de suas intenções de poder. Afinal, todos somos passíveis de incorrer no uso de chantagem, uma vez que é humana a tendência de tentar impor nossas vontades aos demais, as chamadas pequenas barganhas, mas o que torna a chantagem emocional perigosa e tóxica, é quando deixamos de respeitar princípios e valores, ferindo nossa integridade psicológica para atender os desejos do chantagista.
Sempre insidiosa, a chantagem está alicerçada na intenção de poder, caracterizando-se por determinadas táticas ou ações nas quais, prevalece a vontade do chantagista sobre seu alvo. Este tipo de relação tende, no decorrer do tempo, a se tornar rígida, congelada no padrão domínio/subjugação.
As articulações do ceder, doar e receber, servem para definir os limites e as concessões a serem construídas nos relacionamentos, e, a amplitude das situações a serem “negociadas” partem desde acordos triviais, como a escolha do restaurante, até acordos que envolvam nossos valores, princípios realmente inegociáveis, pois representam nosso caráter e podem determinar nossa vida, e, é neste grupo que entram os abusos de qualquer natureza.

Estes parâmetros de respeito ao outro e a si mesmo parecem bem óbvios, então, o que nos leva a cair nas armadilhas da chantagem?
Todos nós ficamos vulneráveis aos que amamos, mas quando há chantagem envolvida, há o uso constante da chamada “nuvem de fumaça”, uma bruma envolvente que obscurece o discernimento do alvo. Esta metáfora é denominada de “FOG”, névoa em inglês, uma sigla formada pelas palavras “Fear, Obligation, Guilit”, ou seja, Medo, Obrigação e Culpa.
Enquanto “névoa”, a chantagem confunde nossa visão e podemos ficar torturados pelo medo de desagradar o manipulador, mas, ao mesmo tempo, nos sentirmos compelidos a atender o que consideramos nossa obrigação, e culpados, caso não o atendamos, ou seja, nos sentimos sem saída, pois não importa o que façamos, sofreremos.
Para evocar a F.O.G., diferentes táticas são comumente usadas pelo chantagista e três tipos básicos podem ser descritos, não se tratam de rótulos, mas sinalizadores de comportamentos e que podem ser usados isolada ou simultaneamente:
O Castigador reage de forma mais contundente, já que o chantagista fica muito irritado com a resistência do alvo, e, passa a fazer uso de ameaças, diretas ou sutis, de abandono e rejeição. Sua desaprovação pode vir acompanhada de um silêncio gelado, uma atitude de indiferença, capaz de gerar uma pressão intensa no alvo, levando-o a ceder por coação indireta. Nesta chantagem, ameaças de punições financeiras ou materiais se unem às ameaças da privação de afeto.
O Sofredor se mostra magoado e amuado, responsabilizando o alvo pelo seu sofrimento, alegando que sua alegria somente será resgatada, caso seu desejo seja atendido. As ameaças do chantagista sofredor podem ainda, ser dirigidas contra si mesmos, com ameaças de lesar a própria saúde, tendo como intimidação extrema, a ameaça de suicídio. Neste tipo de chantagem, a necessidade de poder e controle é mascarada, e o chantagista se faz de vítima indefesa, acusando o alvo de egoísta e insensível.
O Tantalizador representa a chantagem mais sutil, na qual muitas ofertas de recompensas são feitas através de insinuações e promessas induzindo o alvo a acreditar que será recompensado caso se esforce bastante e atenda às exigências do manipulador. Mas estas exigências tendem a se tornar cada vez mais exaustivas e invasivas, sem que haja por parte do chantagista o desejo real de recompensá-las, não passando de um jogo de sedução e falsa disponibilidade emocional.
Para superar esta situação aparentemente sem saída, Susan Fowards (1, p. 192), sugere a estratégia “S.O.S”, sigla em inglês: “Stop, observe, strategize”, ou seja, PARE, OBSERVE e organize sua ESTRATÉGIA.
O parar se refere a dar um tempo para si mesmo (a), afastando-se, física e emocionalmente, da situação conflitiva, criando condições para pensar, para escapar da FOG, e para tomar a distância necessária para respirar e refletir.
O observar consiste em prestar atenção aos vários aspectos que compõe a relação com o chantagista, atentos tanto aos comportamentos, emoções, demandas e reações, do chantageado quanto do chantagista, definindo as crenças e atitudes que perpetuam a chantagem emocional.
Na fase das estratégias, o alvo precisa se conscientizar que está preso em um círculo vicioso da chantagem e que as manobras do chantagista não terão mais força, compreendendo que não se trata de um jogo de poder, mas da preservação do direito de todos.
Em um processo de superação, o conhecimento das fraquezas emocionais que levam a vítima sucumbir às ameaças, deve ser identificado e revisto. Em seguida, deve-se aprender novas habilidades de comunicação, expressando de forma direta e assertiva as próprias necessidades, ciente de que, para adquirir a capacidade de externar com clareza e lucidez nossas vontades, precisamos conhecê-las e conhecer-nos, o que requer que estejamos dispostos a penetrar nosso mundo interno e conhecermos nossa singularidade e as demandas inconscientes que interferem em nossas (re)ações.
Surpreendentemente, muitos chantagistas, ao serem alertados de suas manipulações, e, ao perceberem que suas manobras estão prejudicando seus relacionamentos, decidem rever suas atitudes e abandonam a chantagem, passando, junto com o antigo alvo, à construir uma relação mais saudável. No entanto, existem alguns tipos de personalidades, nas quais prevalecem características perversas que não são permeáveis a qualquer tipo de conciliação que viabilize relacionamentos construtivos ou saudáveis. Em tais casos, desapego afetivo, com ou sem afastamento físico, ainda é a estratégia mais viável.
Desta forma, em se tratando de relacionamentos entre pessoas capazes e com intenção de modificar atitudes, o processo de extinção da chantagem exigirá a aprendizagem e mudança de comportamentos, os quais serão passíveis de recaídas e frequentes retornos à modelos antigos de funcionamento, exigindo que  a persistência e a crença na superação, passem a nortear a busca de crescimento, com a crença de que para cada sentimento desagradável ou sofrido, há uma alternativa de alívio e (re)construção.

Referência Bibliográfica
Forward, S. – Chantagem Emocional – quando as pessoas ao seu redor usam o medo, a obrigação e a culpa para manipular você. Rio de Janeiro. Rocco, 1998

Categorias: Reflexões

1 comentário

Carolina · Agosto 15, 2018 às 3:35 pm

Acho importante dizer que existem pessoas que não aprendem, não se importam e não estão interessadas em mudar o seu comportamento. Caso de marcisistas e psicopatas. A parte do texto copiada abaixo nos leva a entender q com conversa tudo se resolve. E seria ótimo q fosse assim. Mas tem pessosas com as quais só conseguiremos nos frustar e ser mais manipulados tentando conversar.

‘Como este processo de extinção da chantagem exige a aprendizagem e mudança de comportamentos, é possível que hajam recaídas e o retorno aos modelos antigos de funcionamento, mas a persistência e a crença na superação, deve nortear a busca de crescimento, acreditando que para cada sentimento desagradável ou sofrido, há uma alternativa de alívio e (re)construção’ […]

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