Breve reflexão sobre a Ansiedade na Adolescência

Por Polyana Luiza Morilha Tozati em

A ansiedade é uma reação natural do organismo frente a eventos desconhecidos ou imprevistos, sejam agradáveis ou não. Precisamos de um certo nível de ansiedade para enfrentarmos alguns desafios inusitados de nossa vida. O que pode tornar a ansiedade prejudicial é seu grau de intensidade, frequência e duração, condições que podem definir quando se trata de uma ansiedade mais leve, podendo atingir ou não, o patamar de um transtorno psiquiátrico.

A vida é feita de constantes desafios, nos quais também é natural que a ansiedade se faça presente, são períodos que gosto de chamar de “Travessias”, momentos nos quais a vida exige que criemos novas estratégias para lidarmos com nossas dificuldades. E, infelizmente, muitos dos nossos desafios podem estar sendo intensificados e criados pelas pressões vindas do meio social e da cultura na qual estamos inseridos.

Em se tratando de pressões sociais, verificamos que estamos em um período histórico, no qual a rápida sucessão dos acontecimentos e a transitoriedade das notícias, nos geram uma sensação de impermanência e de insegurança. O bombardeio de informações sucintas e fugazes, nos dão uma falsa sensação de “saber” e ao mesmo tempo, nos remete a uma permanente obrigação de estarmos atualizados.

“Obrigações”, esta é a palavra de ordem! Temos que ser, ou parecer, felizes, extrovertidos, criativos, bonitos e bem sucedidos. Seja qual for a sua idade, seja melhor que seus pares. Esta sensação permanente de incompletude, gera uma ansiedade difusa, caracterizada pela sensação constante de estarmos sempre em débito por “algo” a fazer ou insatisfeitos com nosso jeito de “ser”.

Na infância já percebemos as crianças pressionadas pela necessidade de desenvolver talentos, explorando suas potencialidades, muitas vezes, até a exaustão. O tempo livre destinado ao brincar espontâneo ou para deixar desabrochar seus interesses, encontra-se frequentemente cerceado pela série de compromissos pré-estabelecidos com aulas extras, de idiomas, de dança, natação, pintura e tantas outras.

Normalmente, os pais alegam que são os próprios filhos que solicitam e definem o tipo de aula extra que alegam querer, mas cabe a nós adultos, avaliar e perceber cada criança e jovem na sua unicidade e reais demandas, priorizando sempre a necessidade infanto-juvenil de cultivar e deixar florescer as aptidões que traz em germe na sua essência.

Quando surge a adolescência propriamente dita, as cobranças vão se tornando mais desafiadoras, com a exigência constante de transformar relacionamentos que, até pouco tempo, eram matrizes de segurança. A perda da estabilidade nas amizades, por exemplo, traz muita ansiedade para o adolescente que necessita do acolhimento do seu grupo para construir sua identidade e acolher sua solidão.
Amizades que atualmente, devido ao universo virtual, não ficam restritas apenas aos ambientes físicos, como a escola ou os clubes, e, através das redes sociais, conflitos podem ser abruptamente criados ou intensificados, tornando os adolescentes passíveis de serem segregados por seu grupo dentro de sua própria intimidade. O adolescente tem estado mais vulnerável portanto, a opinião alheia, às críticas e intrigas sociais, capazes de gerar mais perdas, que vão das amizades a autoestima.

Na verdade, a adolescência sempre foi caracterizada por muitas perdas, chamadas “lutos”, necessárias para realizar a travessia da infância para a vida adulta, obrigando tanto o pré quanto o adolescente a abrir mão de muitos refúgios da infância.

Além da perda da constância e estabilidade das amizades, há a perda da imagem dos “pais da infância” até então idealizados e “perfeitos” e que deve ser substituída pela ideia de pais humanos, logo imperfeitos e falíveis. O “vazio” deixado pelos pais idealizados deve ser preenchido por uma relação entre pais e filhos(as) mais consciente e igualitária, capaz de libertar o jovem para reafirmar sua personalidade e escrever sua própria história.

Ainda, há que se tomar cuidado na fase inicial da adolescência, com o momento da perda dos brinquedos e encantamentos da infância, que precisam ser substituídos por entretenimentos saudáveis e construtivos, capazes de motivar e encorajar o jovem a entrar na vida adulta, sem correr o risco de que seus medos e expectativas, os levem a falsos e perigosos refúgios, como as drogas, álcool ou qualquer outro tipo de escapismo.

O desempenho acadêmico também é um fator gerador de ansiedade, variando entre exigências excessivas e negligências completas por parte dos jovens, ou seja, alguns ansiosos por almejarem estar no topo, outros indiferentes, mas não menos pressionados, perdidos em um “não saber” sobre o futuro, bastante perturbador.

Do desempenho acadêmico ao sucesso profissional, as cobranças regem as escolhas, estabelecem agendas e definem “perfis”, e, caso você não seja “destemido e ambicioso”, já está aquém das expectativas sociais.  Para atender estas expectativas, deve-se escolher a profissão, a partir do status que ela proporcionará, passando em primeiro lugar, preferencialmente no primeiro vestibular. Logo, encontrar um equilíbrio nas demandas de sucesso acadêmico e social é um grande desafio, pois estes aspectos são muitas vezes usados como fatores definidores das conhecidas “panelinhas”, classificando os jovens em grupos discriminatórios, tais como, o dos “nerds”, dos “populares”, dos “excluídos”, dos “que não querem nada com nada”, e dos tantos outros denominadores, que acabam se tornando prejudiciais e cerceadores do desenvolvimento da identidade adolescente.

A estética do corpo e o desempenho social, não são menos importantes neste cenário de exigências…ser magra ou “sarado”, descolado e popular, belo(a) e bem vestido(a), ter muitas “curtidas” ou seguidores, adaptar-se constantemente a moda ou as novas tendências, sejam de beleza, comportamento ou cultura, fazem parte do pesadelo. Muitos jovens tem uma sensação de inadequação difusa, sem saber exatamente porque se sentem desconfortáveis, pois sempre acham que não estão fazendo o suficiente para atingir objetivos que sejam considerados socialmente “suficientes”. Criam armadilhas para si mesmos, estabelecendo parâmetros de competências, seja na silhueta, nos estudos ou na popularidade, quase sempre inatingíveis.

Exigências, cobranças e ansiedades excessivas, vão fazendo parte do nosso dia-a-dia, como se o fato de nos sentirmos desconfortáveis e “aquém” fosse natural. Não é saudável sentir-se permanentemente ansioso, para tanto, é necessário pararmos e refletirmos sobre nossas escolhas, sobre nosso direito de “ser” e construir uma identidade a partir de nossos verdadeiros sonhos. Nos libertar de qualquer tipo de “ditadura”, seja da beleza, do sucesso, da eficiência e ou da popularidade.

Portanto, é muito importante quebrar a tendência social de estabelecer parâmetros de comparações entre pessoas, de enaltecer a competição como modelo de competência, para resgatar a premissa de que precisamos competir apenas conosco mesmos, com nossas próprias porções pessoais inacabadas ou ainda em desenvolvimento, mas nunca competir com o “outro”.

Vale lembrar que a sociedade já cometeu vários enganos ao julgar seus componentes a partir de um único aspecto, vide Albert Einstein, que pelo estigma da “ditadura do intelecto” foi considerado por seus colegas e professores como um aluno medíocre.

Imprescindível portanto, se faz a inclusão das diferentes modalidades de inteligências, (Lógico-matemática; Linguística; Musical; Espacial; Corporal-cinestésica; Intrapessoal; Interpessoal; Naturalista…) que não apenas ampliam a análise das competências individuais, mas retira a primazia do intelecto e torna legítima as inteligências emocional e social, essenciais para desenvolvimento de um coletivo mais generoso e humano.

Enaltecer a singularidade do indivíduo, com suas características que o tornam únicos e não clones de uma sociedade de iguais, retirando os “moldes” que engessam as pessoas em estereótipos e imagens idealizadas, veiculadas e incentivadas pelo “faz de conta” da mídia e das redes sociais, criando príncipes e princesas não menos perfeitos que a de nossas histórias infantis. Sejamos príncipes e princesas em nossos próprios sonhos, com nossas porções “sapos” e nossos potenciais de realeza e nobreza da Alma.

Vamos relaxar…assumindo nossas dificuldades e desenvolvendo nossas potencialidades, respeitando nosso ritmo, do nosso jeitinho, às vezes, meio desajeitado, diferente e único.  Desta forma, a ansiedade vai sendo diluída no respeito e na valorização de nós mesmos.

Categorias: Reflexões

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