Superando a codependência: Aprendendo a cuidar de si mesmo!

Por Polyana Luiza Morilha Tozati em

SUPERANDO A CODEPENDÊNCIA: Aprendendo a cuidar de si mesmo!

Inicialmente, faz-se necessário novamente, enfatizar e esclarecer que compreender a codependência é empreender uma tarefa difícil, devido ao universo emocional pouco preciso e multifacetado em que está inserida, consequência das inúmeras sutilezas com as quais o tema se reveste, apesar da riqueza de informações que os autores empenhados nesta tarefa de esclarecimento oferecem.

Talvez no anseio de buscar formas de intervenções terapêuticas, algumas ideias que tenham ficado obscuras na parte anterior desta discussão, possam ser esclarecidas. Portanto, ideias referentes à descrição do funcionamento codependente ainda se farão presentes, mescladas com as propostas de “cura” ou superação.  Caberia enfatizar que a proposta do texto que ora se apresenta, é a de evidenciar os aspectos que propiciam a libertação desta dinâmica codependente, levando os indivíduos nela enredados a aprenderem a viver e responsabilizar-se pelas suas próprias vidas, permitindo desta forma que outras pessoas, com as quais convivem, façam o mesmo.

“DEPENDÊNCIA” E “DES-DEPENDÊNCIA”

“Des-dependência”, foi um termo cunhado por Penelope Russianoff (1, p. 137) para descrever um “equilíbrio saudável”, no qual “reconhecemos e satisfazemos nossas necessidades saudáveis e naturais de pessoas e de amor, mas não nos tornamos dependentes delas de forma exagerada e artificial.” E este processo de desdependência é uma das conquistas fundamentais para o indivíduo enredado no processo codependente.

Mas, para com mais propriedade abordar a “desdependência”, faz-se necessário tratar primeiramente da manifestação da “dependência” nos relacionamentos interpessoais, entender quais características exprimem que um relacionamento está sendo regido por ela e não pelo Amor.

Muitas vezes, a dependência emocional portanto, confunde-se com amor, e como a busca do “amor” é a mola propulsora e o ideal que move os relacionamentos, as pessoas tornam-se muito vulneráveis a confundi-los. Logo para mensurar a grau e a qualidade do amor, é preciso buscar a intenção inconsciente que move um relacionamento, trazer para a consciência as verdadeiras motivações que regem suas interações. Se a intenção for aplacar uma carência de si mesmo, então é dependência e não amor. Quando a relação está no âmbito do suprir e não no de acrescentar, então é dependência. Melody Beattie (1, p. 149-150,) propõe uma tabela para demonstrar a diferença entre uma relação de Amor, caracterizada por um sistema aberto e uma relação viciosa, ancorada em um sistema fechado:

 

 

AMOR (Sistema Aberto)

 

– Espaço para crescer, expandir-se, desejo que o outro cresça;

– Interesses distintos; outros amigos; manutenção de outras amizades significativas.

– Encorajamento de cada um para o crescimento do outro; segurança quanto ao próprio valor.

– Confiança; abertura.

– Integridade mútua preservada.

– Desejo de arriscar e ser real

– Espaço para a exploração de sentimentos dentro do relacionamento.

– Capacidade de gostar de estar sozinho

 

VÍCIO (Sistema fechado)

 

– Dependente, baseado na segurança e no conforto; usa a intensidade da carência e da paixão como prova de amor (pode na realidade ser medo, insegurança, solidão).

– Total envolvimento; vida social limitada; negligenciamos antigos amigos e interesses.

– Preocupação com o comportamento do outro; dependência da aprovação do outro para estabelecer a própria identidade e o próprio valor.

– Ciúme, possessividade, medo de competição, “suprimentos de proteção”.

 

– As necessidades de um são suprimidas em função das do outro; autoprivação.

– Busca da invulnerabilidade total – elimina possíveis riscos;

 

– Reafirmação através de atividades repetitivas e ritualizadas.

– Intolerância – incapaz de suportar separações (mesmo quando em conflito); aprende-se cada vez mais. Carências – perda de apetite, insônia, agonia letárgica e desorientada.

 

 

            Como o relacionamento dependente está a serviço das carências e vulnerabilidades, natural se torna que pessoas codependentes tenham dificuldades de superar rompimentos, conforme prossegue a tabela abaixo (1, p. 150):

TÉRMINO DE UM RELACIONAMENTO

 

AMOR (Sistema aberto)

– Aceita o fim de um relacionamento sem sentir perda da própria adequação e valor próprio.

– Deseja o melhor para o outro, mesmo quando distantes; podem tornar-se amigos.

VÍCIO (Sistema fechado)

– Sente inadequação, falta de valor; a decisão é geralmente unilateral.

– Término violento – quase sempre odeiam um ao outro; tentam magoar-se; manipulam para ter o outro de volta.

 

Caso a pessoa codependente não encontre pessoas complementares, com potenciais de estabelecerem relações disfuncionais ou tóxicas como ela, o relacionamento não se estabelece, mas o codependente pode sofrer sozinho por uma relação imaginária que o aprisiona. O vício se estabelece a partir de uma relação impossível, que serve de gatilho, não de justificativa, para eliciar comportamentos destrutivos e disfuncionais característicos, conforme demonstra a tabela abaixo (1, p. 150):

VÍCIO DE UM SÓ LADO

VÍCIO (Sistema fechado)

– Negação, fantasia; superestima do compromisso do outro.

– Procura soluções fora de si – drogas, álcool, novo amante, mudança de situação

A discussão das peculiaridades do relacionamento dependente, que é o eixo básico da codependência, precisou ser devidamente explicitado porque fornecem dados norteadores para o estabelecimento de um programa de recuperação. E a seguir, serão apresentados alguns caminhos para a autossuperação, a partir de algumas estratégias de libertação (1, p. 13-18):

O primeiro passo prático para libertar-se da codependência, consiste em compreender a extensão e a natureza da dependência que atrela uma pessoa à outra ou a uma circunstância, mensurando se a dependência se dá a nível emocional ou financeiro ou a ambos. Caberia elucidar que dependência financeira não representa codependência, deste que a dependência financeira não seja usada como meio de coerção, humilhação ou prisão.

INFÂNCIA: “CRIANÇA INTERIOR FERIDA”

No âmbito psicológico, um dos primeiros passos a caminho da independência emocional é a percepção de aspectos da infância que ainda podem estar ditando comportamentos na vida adulta, os chamados “assuntos interminados” ou “situações inacabadas”, que impelem a pessoa a repetir situações traumáticas ou frustrantes não resolvidas da infância e que em uma tentativa de possível superação, tendem a serem reeditadas na vida adulta na busca de serem redimidas.

Este retorno à infância geralmente, traz a criança interior ferida (3), que se sentiu carente e vulnerável e que permanece perdida e confusa, necessitando que o adulto que “cresceu” a acolha. Identificar as dificuldades não resolvidas da infância e amparar a criança interior são compromissos terapêuticos e libertadores.

RESGATAR A POSSIBILIDADE E O DIREITO AOS SENTIMENTOS

Esquivar-se das dores desta criança interior e de sentimentos dolorosos, são atitudes características dos indivíduos codepedendes, portanto, encoraja-los a entrar em contato com seus sentimentos, entendendo que não está nos problemas dos outros, a solução ou esquecimento de suas dores, são atitudes temidas, mas necessárias.

Igualmente, os codependentes podem e devem aprender a enfrentar seus próprios problemas ou aprender a conviver com eles – enquanto não é tempo ou as circunstâncias o impeçam de fazê-lo – levando-os também a identificar e a lidar com seus próprios sentimentos, sejam bons, desagradáveis ou desafiadores.

DIREITO AOS SENTIMENTOS E “CORAJOSA VULNERABILIDADE”

O medo é um destes sentimentos desagradáveis e ameaçadores que impedem as pessoas codependentes de serem afirmativas, de expressarem suas necessidades, de assumirem quem realmente são e de realizarem suas escolhas. Para enfrentar o medo, Colette Dowling (4, p.22) fala de uma corajosa vulnerabilidade”, ou seja, quando “você sente medo mas, de qualquer maneira, faz.” O importante é não negar o medo mas, com e apesar dele, realizar sua vida. Muitas mulheres evitam romper relacionamentos destrutivos ou insatisfatórios pelo medo que sentem, e, por ignorarem que é possível sentir medo e, mesmo assim agir. Ignoram que coragem não é a ausência de medo, mas a capacidade de enfrenta-lo e suportá-lo, priorizando a si mesma.

Portanto, o medo e outros sentimentos desagradáveis surgirão inevitavelmente do processo de des-dependência, porque transformações e mudanças se farão necessárias e as mudanças geram perdas, que também terão que ser digeridas com sabedoria e consciência. Até mudanças positivas geram perdas, então é possível imaginar como é difícil abandonar o funcionamento conhecido e repetitivo de toda a existência, mesmo que disfuncional, para buscar novas e saudáveis formas de relacionar-se com as pessoas e com a vida.

DIREITO À TRISTEZA

Resgatar o direito à tristeza é uma necessidade, principalmente porque nos últimos anos tem surgido uma ditadura da felicidade, com uma exigência de que todos sejam extrovertidos, animados e felizes. Há um dever de felicidade, no qual deve-se fazer os filhos felizes; deve-se trocar de parceiro(a), caso o casamento não seja mais empolgante, ou ainda, deve-se deletar um amigo, caso a amizade não lhe interesse mais.

Há uma tendência inclusive, de evitar os sentimentos de perda e tristeza decorrentes do término de uma relação amorosa, fazendo das “baladas” e do “agito”, refúgios para esquecer ou “partir para outra”. Nesta hora, as tantas canções de “fossa” ou “bad”, tornam-se obsoletas e não mais acolhem os amores perdidos como outrora.

A tristeza não é necessariamente a contraposição da felicidade, pois a felicidade de autoconquistar-se chega, muitas vezes, mesclada com um certo pesar…pesar pelas ilusões que antes nutriam e agora intoxicam…pesar pelo que “foi sem nunca ter sido”…um pesar que pode ser chamado também de “processo de tristeza”, ou seja, quando a tristeza é vivenciada na sua totalidade para romper amarras,  vivenciada como processo e como tal, realizada em etapas, organizadas e didaticamente divididas por Elizabeth Kübler-Ross, a primeira autora a identificar e a nomear este processo.

Este “processo de tristeza” compõem-se de momentos difíceis, nos quais muitos sucumbem, desistem de suas buscas e voltam aos antigos padrões de funcionamento disfuncionais. Na psicoterapia, estes processos são desafiadores e exigem do cliente muita “corajosa vulnerabilidade” e determinação. Nas palavras de Melody Beattie (1, p. 177):

“(…)os profissionais de saúde mental têm observado as pessoas atravessarem esses estágios sempre que enfrentam qualquer perda. Pode ser uma perda pequena – uma nota de cinco dólares, não receber uma carta esperada – ou pode ser significante – a perda de um cônjuge por divórcio ou por morte, ou a perda de um emprego. Até as mudanças positivas trazem perda – quando compramos uma nova casa e nos mudamos da antiga – e exigem uma progressão através dos cinco estágios seguintes.” Etapas difíceis, mas redentoras:

OS ESTÁGIOS DO “PROCESSO DE TRISTEZA”

O primeiro estágio é o da negação e as reações características desta fase são:  recusa à acreditar na realidade; negar ou minimizar a importância da perda; negar quaisquer emoções sobre a perda; ou a fuga mental, por intermédio de comportamentos compulsivos, ideias fixas ou respostas emocionais inapropriadas, devido ao fato da pessoa encontrar-se temporariamente desligada de suas emoções. Conforme explica o psicólogo Noel Larsen (1, p.178): “Negação não é mentir, é não permitir a si mesmo saber qual é a realidade.”

E acrescenta Melody Beattie (1, p. 179): “A negação é o amortecedor da alma. É um instinto e uma reação natural à dor, à perda e à mudança. Ela nos protege. Guarda-nos dos reveses da vida até que possamos juntar nossos outros recursos para lidar com isso.” Aprender e desenvolver estes recursos interiores de enfrentamento emocional é, portanto, uma das tarefas de recuperação dos codependentes para promoverem e manterem as mudanças necessárias.

O segundo estágio é o da raiva. Uma raiva razoável ou irracional pode surgir. Com esta raiva muitas vezes surge a necessidade de descarregá-la no meio externo, culpando alguém ou a si mesmo pelos fatos até então negados. Uma profunda decepção e raiva pode surgir quando a pessoa codependente percebe os engodos em sua vida. Neste momento novamente, muita determinação é necessária para que a pessoa não se deixe conduzir por uma raiva irracional, geradora de atitudes destrutivas em relação ao meio ou a si mesmas. Ou para evitar que se enclausurem numa culpa e autodepreciação improdutivas e disfuncionais.

O estágio da negociação surge quando a pessoa tenta barganhar com a situação, propondo aos outros ou a si mesma soluções para evitar ou minimizar sua dor. Suas soluções podem ser razoáveis e construtivas, como procurar ajuda profissional, por exemplo, ou serem irracionais, como o pensamento de certa forma mágico do codependente, ao acreditar que seus comportamentos são determinantes da doença ou da recuperação do dependente, ideias tais como, “caso eu me comporte e seja bonzinho, meu pai não sairá para beber.”

Frente a constatação do inevitável e malogradas todas as tentativas de esquivar-se da realidade, surge o estágio da depressão.  Para Esther Olson (1, p. 180), terapeuta familiar especializada em tristeza “esse estágio do processo começa quando modestamente nos entregamos (…) quando começa o ‘processo do perdão’. Isso só desaparecerá quando todo o processo for completado.” A partir da entrega emocional, pode surgir o choro redentor, no qual as lágrimas lavam e adubam a terra da Alma para novas semeaduras.

E deste conflituoso jogo de emoções, surge o estágio da aceitação. É o estágio no qual pode-se organizar os acontecimentos, efetuar e ajustar as mudanças que se façam necessárias. A perda ou as mudanças se tornam parte da vida, passíveis de serem encaradas, conciliadas e integradas.

Este processo de tristeza e a vivência de cada estágio são necessários, mas às vezes não se consegue vivenciá-los de forma linear, pois os estágios podem se justaporem ou se alternarem, porém o importante é que sejam vividos na sua integridade e intensidade, dentro do que é possível e suportável para cada ser humano, no seu próprio ritmo e potencial de superação.

O psicólogo Donald L. Anderson (1, p. 183) escreveu: “Saudáveis são os que sentem tristeza. Apenas muito recentemente começamos a descobrir que negar a tristeza é negar uma função da natureza humana e que tal negação às vezes produz consequências diretas. A tristeza como qualquer emoção verdadeira, é acompanhada por certas mudanças físicas e pela libertação de certa energia psíquica. Se essa energia não for liberada no processo normal da tristeza, torna-se destrutiva dentro da pessoa (…)Qualquer fato, qualquer conscientização que contenha uma sensação de perda podem, e devem, ser sentidos. Isso não significa uma vida de incessante tristeza. Significa estarmos dispostos a admitir uma emoção honesta, em vez de sempre ter de rir da dor. Admitir a tristeza que acompanha qualquer perda não é apenas permissível – é uma opção saudável.”

Após a explanação da importância da vivência saudável das emoções, sejam elas agradáveis ou desconfortáveis, faz-se necessário retomar alguns aspectos importantes das emoções costumeiramente vividas pelos codependentes. Em geral, pelo medo das emoções verdadeiras, oriundas dos confrontos reais com a realidade, estas pessoas tornam-se reféns de emoções descontroladas, por serem reativas e infrutíferas.

DIFERENÇA ENTRE AGIR E REAGIR

Atitudes reativas serão caracterizadas no presente estudo, como aquelas respostas comportamentais ou emocionais que são essencialmente eliciadas pelo comportamento dos outros. Respostas impulsivas e irrefletidas, cerceadas por um padrão mínimo de opções emocionais e/ou comportamentais, uma vez que o indivíduo encontra-se aprisionado em suas premissas codependentes de responder prontamente à qualquer demanda do meio. Ao contrário, do agir, quando as pessoas tem possibilidade de elaborar uma resposta mais adaptada às situações, encontrando-se mais livres para elaborar uma resposta, a partir do uso equilibrado da razão e da emoção.

Caberia questionar se o reagir não é uma atitude natural nas relações humanas e, novamente é preciso enfatizar que a diferença entre reagir ocasionalmente, encontra-se nos excessos, na impossibilidade de escolhas, na rigidez das respostas, esclarecendo que o codependente aprende somente à reagir e a nunca perceber a si mesmo ao reagir instantaneamente, tornando-se marionete, uma pessoa manobrada pelo comportamento dos outros, não permitindo nunca a não reação. Conforme elucida Melody Beattie (1, p. 97):

“A maioria dos codependentes é reacionária. Reagimos com raiva, culpa, vergonha, ódio de nós mesmos, preocupação, mágoa, gestos controladores, cuidado, depressão, desespero e fúria. Reagimos com medo e ansiedade. Alguns de nós reagimos tanto que chega a ser doloroso estar perto de alguém, e torturante estar em grandes grupos de pessoas. (…) Mantemo-nos sempre em estado de crise – a adrenalina flui e os músculos se retesam, prontos para reagir a emergências que geralmente não são emergências. Se alguém faz algo, precisamos dizer algo de volta. Se alguém se sente de determinada maneira, precisamos sentir-nos de determinada maneira.”

Há um ditado popular que adverte que as pessoas “nunca devem reagir com a lágrima quente” e é exatamente esta reação impensada e intempestiva que rege os comportamentos reativos na codependência. Ao apenas reagir, as pessoas codependentes perdem seu poder de pensar, de sentir, e de elaborar respostas adequadas à intenção ou a intervenção de outras pessoas. Para se tornar menos reativos, os codependentes precisam contextualizar e relativizar as ações das outras pessoas. Seguem algumas orientações de Melody Beattie (1, p. 100):

“- Não temos que considerar o comportamento de outras pessoas como reflexo de nosso valor próprio;

– Não temos de considerar a rejeição como um reflexo de nosso valor próprio;

– Não temos que levar tudo para o lado pessoal;

– Não temos, tampouco, de tomar as pequenas coisas como afrontas pessoais.”

            Em suma, trata-se de tirar o poder que o codependente dá às outras pessoas, apropriando-se do seu próprio valor, de suas escolhas e de si mesmo.  E a partir desta conquista, pode aprender a apenas agir pautado em suas necessidades emocionais saudáveis e de forma autocentrada, percebendo sua individualidade e desenvolvendo uma capacidade de desligar-se das carências excessivas que os enredam constantemente às necessidades dos demais.

A ARTE DE DESLIGAR-SE

            Portanto, outro padrão similar e, de certa forma, intrínseco ao comportamento reativo, é o da intensa ligação emocional ou apego excessivo, que no presente estudo trata-se de sinônimo de “envolver-se demais”, algo parecido com o não distinguir a si mesmo ou suas reações das demandas das outras pessoas. No contexto da dependência química e da codependência consequentemente, usa-se muito o termo desligamento, ou seja, o ato de não sentir-se responsável pelas atitudes do outro, de não ficar refém de crises ou recaídas.

A atitude dos codependentes à sugestão de desligamento é bastante reativa, gerando interpretações reacionárias, que os levam a associar tal atitude com frieza, insensibilidade ou abandono do outro. O medo suscitado pela possibilidade de desligar-se de seu objeto de apego excessivo, leva-os a traduzirem desligamento como desamor, mas ao contrário do que parece, desligar-se talvez seja uma ampliação deste amor, permitindo que o codependente ame a si mesmo, ame a pessoa com a qual está envolvido e ame a própria vida. Há a ampliação e a legitimidade de amar.

Outra libertação importante que o desligamento promove é a retirada da necessidade de “ter que” fazer, sentir ou se preocupar. Liberta de todas as obrigações que atormentam e escravizam a codependência. Segundo a autora (1, p. 91):

Desligamento não significa que não nos importamos. Significa que aprendemos a amar, a nos importar e a nos envolver sem ficarmos loucos. Paramos de criar todo esse caos em nossas mentes e em nossos ambientes. Quando não estamos nos debatendo ansiosa e compulsivamente, nos tornamos capazes de tomar boas decisões sobre como amar as pessoas e como resolver nossos problemas. Ficamos livres para nos importar e amar de maneira a ajudar aos outros sem ferir a nós mesmos.

(…)Encontramos liberdade para viver nossa própria vida sem excessos de culpa ou de responsabilidade para com outros. Às vezes, o desligamento até motiva e liberta as pessoas à nossa volta para que comecem a resolver seus problemas. Paramos de nos preocupar com elas; elas se dão conta e finalmente começam a se preocupar consigo mesmas. Que grande plano. Cada um tratando da própria vida.

LIBERDADE

            A partir do exposto portanto, pode-se perceber que todas as estratégias para a superação da codependência trazem a ideia da liberdade. Uma leveza e uma concepção mais saudável e construtiva da vida.

A única pré-condição, no entanto, é que haja o desejo e o engajamento genuíno da pessoa codependente para percorrer sua jornada de libertação. E que a perseverança acompanhe a caminhada e a paciência e a autocompaixão acolham as possíveis recaídas.  A frase de Trina Paulus (2, p. 106) pode resumir o poder e a força de uma real intenção de crescimento:

“‘Como alguém se transforma em borboleta?’, perguntava ela pensativamente.

            ‘Você deve desejar tanto voar que se dispõe até a deixar de ser lagarta.”

                        Muitas pessoas codependentes externam uma consternação e profunda decepção ao perceberem suas porções ainda lagartas…mas cabe lembrar que é da natureza humana em evolução, possuir porções da personalidade em estado de lagarta, outras em casulo ou outras até, em pleno voo. Todas coexistindo em maior ou menor grau, motivadas e direcionadas para o crescimento e para a autossuperação.

REFERÊNCIA BIBLOGRÁFICA

  1. Beattie, Melody. CODEPENDÊNCIA NUNCA MAIS. 16ª ed. – Rio de Janeiro; BestSeller, 2013
  2. Beattie, Melody. PARA ALÉM DA CODEPENDÊNCIA: deixe de ser codependente de um vez por todas – 4ª ed. – Rio de Janeiro; BestSeller. 2012
  3. MONOGRAFIA: “A Maldição Familiar no Abuso Sexual Incestuoso e nos Maus- Tratos” – Uma proposta de Cura) – site “refletindoapsicologia.com”
  4. Colette. COMPLEXO DE CINDERELA. Círculo do Livro. São Paulo. 1981

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