Tempo de Travessia

Por Polyana Luiza Morilha Tozati em

Tempo de Travessia
A Travessia Emocional

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”
Fernando Teixeira de Andrade

Gosto de compartilhar da inspiração do poeta, para pensar no processo psicoterapêutico como “travessias”… como “tempos’ em que nos permitimos transformações.  . E a vida está repletas delas! São aqueles momentos em que uma insatisfação sem nome definido, uma doença inesperada ou um ciclo se fecha, nos convidando para uma mudança.

E “mudanças” são desafiadoras, uma vez que nos obrigam a abandonar posições seguras e conhecidas, compelindo-nos à buscar novas rotas, a abrir novas “portas” emocionais e encorajar-nos a atravessá-las. Talvez seja mais fácil aventurar-se em novos horizontes do mundo externo do que desvendar e aventurar-se dentro de si mesmo.

Muitas vezes, o medo e a insegurança temporários são inevitáveis, pois nós podemos nos sentir perdidos ou vazios durante a Travessia, uma vez que não podemos retornar, pois as velhas portas estão fechadas e ainda não conseguimos abrir as novas portas. Esta abertura de novas portas implica questionar nossas atitudes, nossos padrões de relacionamentos, o papel que exercemos na família e na vida. Descobrir as razões que nos fazem passar pelas mesmas frustrações ou decepções, ainda que os amigos mudem, os chefes mudem ou a vida aparentemente mude.

Talvez a vida nos leve sempre para pessoas “parecidas” ou nós tenhamos o mesmo jeito “sem jeito” de tentar solucionar nossos problemas com as pessoas. Esses “jeitos” de conduzir nossas emoções e nossos relacionamentos são programados e estabelecidos na infância e é por isso que toda Travessia precisa conjugar a compreensão da vida adulta com as constantes visitas e acolhimento das memórias da infância. É preciso conhecer a criança que fomos para entendermos o adulto que somos.

A tarefa do profissional/aprendiz da Psicologia, é convidar e estar com as pessoas, compartilhando de seus anseios, de suas angústias, buscando tocá-las de alguma forma, para que vislumbrem caminhos inusitados, permitindo (re)descobrirem-se… refletindo novos feixes de consciência, iluminando, atingindo e tocando cantos ainda obscuros do si mesmo, sempre de mãos dadas com o cliente, acompanhando-o em sua Jornada.

Estudar trilhas que a Alma humana guarda e esconde no seu âmago é também libertar a vida, para que flua em abundância.

O processo psicoterapêutico portanto, é feito de Jornadas, nas quais antigas e desbotadas ideias e emoções vão sendo desvendadas e até (re)vividas para comporem novas trilhas emocionais a serem desbravadas e transformadas em novos sentimentos e comportamentos… novas bússolas capazes de (re)orientarem a vida do cliente com mais consciência e autenticidade.

O Processo Psicoterapêutico é uma Travessia voluntária, diferente das tantas outras que já fazem parte da vida, como as travessias da infância, adolescência, vida adulta e desta, para a maturidade. São os ciclos contínuos e inevitáveis impostos pela vida no seu próprio curso.

A Psicoterapia é uma escolha, pois é o cliente quem escolhe realizar a Travessia, permitindo-se e traçando a dimensão da Jornada de Autoconhecimento. O psicólogo (a) oferece as possíveis trilhas que cada Alma poderá seguir, analisando e acompanhando a verdade, a riqueza e unicidade de cada “aventureiro”.