Refletindo a Psicologia

Por Polyana Luiza Morilha Tozati em

Refletindo a Psicologia

                        Um espaço para refletir a Psicologia, abordando suas diferentes nuances e complexidades, presentes e desafiantes, desde nossas buscas cotidianas de realizações até o desvendar das grandes dores humanas.
Psique” é uma palavra de origem grega para designar “Alma”, portanto, a Psicologia é o estudo da Alma e traduzi-la e refleti-la é um inspirador desafio, uma vez que cada “Ser” traz em si um universo único, repleto de verdades, buscas e equívocos particulares, que devem ser acolhidos e respeitados. “Cada um de nós compõem a sua história e cada ser em si carrega o dom de ser capaz e ser feliz…”, já nos dizia a música de Renato Teixeira e Almir Sater.
Igualmente, refletir sobre a Psicologia, é traduzi-la em processos de autoconhecimento! Muitos recorrem a um profissional para ajudar nesta Jornada, atitude que pode causar muita estranheza para algumas pessoas que, desconfiadas e incrédulas, perguntam: “como alguém que nunca me viu antes, pode querer me conhecer mais do que eu mesmo?”
Frente a esta perplexidade, é importante esclarecer que o profissional de psicologia é um “aprendiz” da Alma e, como tal, passou muitos anos estudando a Alma das pessoas e estudando todos os autores que, por sua vez, passaram muitos anos a estudando também. Acrescente-se a estas teorias, a necessidade de que, para ser um bom profissional deve ter passado, e estar sempre atualizando, o conhecimento de si mesmo.
Todo este manancial de teorias e estudos buscam compreender a Alma em suas armadilhas, equívocos, caminhos sombrios ou luminosos, tortuosos ou sublimes, capazes de conduzir e transformar a vida de cada pessoa em um roteiro de aperfeiçoamento permanente ou em um processo de frustrações constantes. E são estes estudos sobre os sentimentos e comportamentos humanos que habilitam o “aprendiz” da Alma a acompanhar seus clientes em suas buscas.
Portanto, como aprendizes de um ofício, o(a) psicólogo(a) está sempre buscando maneiras de “tocar” a Alma, de ajudá-la a revelar-se e a (re)encaminhar-se na sua peculiar e legítima Jornada de Crescimento. Em outras palavras, procuram ajudar  as pessoas à retirarem os entraves que as impedem de gerar suas conquistas e plenitudes.
Nas poéticas palavras do Gestalt-terapeuta Abel Marcos Guedes, estes intensos e belos processos de transformar e transformar-se em laboratórios interiores são descritos como arte: “Eu admirava, com boa dose de inveja, os artistas que vivem de sua arte, até perceber que esta é a minha realidade e que minha arte é “tocar” as pessoas. “Tocar” pela palavra, gesto, afeto, expressão, olhar, movimentos etc. E enaltece ainda, a importância do “encontro” neste processo: “consigo “tocar” quando fui ou estou sendo tocado por essa mesa pessoa…o privilégio de viver a minha ignorância, fascínio e curiosidade junto ao ser humano.”
A psicoterapia mais do que trabalhar com pessoas “com problemas”, trabalha com pessoas que buscam um maior “autoconhecimento”, para compreenderem as razões de tantas vezes estarem repetindo os mesmos erros, reeditando os mesmos conflitos e chorando as mesmas lágrimas. Ou seja, a partir da compreensão da própria história, tornam-se capazes de recriar e transformar sua trajetória existencial.
Na maioria das vezes, é preciso rever apegos e desvendar o que nos torna cativos de enredos antigos e mal resolvidos, ou seja, porque tantas vezes nos encontramos nas mesmas “encrencas” e “mal-entendidos”. Libertar-se de dramas e tramas que talvez nunca nos pertenceram, realmente seja uma das formas de promover este autoconhecimento libertador.
                        Iris Sinoti, uma Psicoterapeuta Junguiana, faz uma comparação muito criativa, do que seria um processo de autoconhecimento, fazendo uma analogia entre nossa Alma e uma casa:
Nossa Alma seria uma grande casa…contendo uma “sala” arrumada que conhecemos e cultivamos, ou seja, a parte de nosso ser, que apresentamos para a sociedade.  Mas a casa da Alma, também tem a sua contraposição que é o “quartinho da bagunça”, onde tudo aquilo que um dia serviu e que achamos que servirá novamente, é guardado. Um “quartinho” no qual vamos sempre colocando cada vez mais “conteúdos”, até que um dia já não cabe mais nada, a porta não fecha e passamos a precisar de mais espaços na nossa casa interior para guardamos as coisas que realmente fazem a diferença.
E a Vida de cada um de nós, em algum momento, de repente nos convida à buscar algo no passado, obrigando-nos a mexer no “quartinho da bagunça”. Convida-nos a fazer uma limpeza, à reavaliar as coisas que devem permanecer e as coisas que não nos são mais úteis, aquelas que nunca o foram e nem serão um dia.
E deste quartinho, passamos a organizar ainda mais nossa casa, passamos a reorganizar outros cômodos, adequando-os mais aos nossos sonhos e necessidades existenciais, aquelas que realmente valem à pena.
E desta forma, nossa casa interior vai se tornando mais arejada, funcional e acolhedora…capaz de nos tornar “mais caseiros”, menos dependentes dos lugares exteriores, da casa interior e da vida dos outros, nos tornando mais autônomos. E nossa casa, que é o nosso “eu”, passa a ser nosso universo, nos tornando legítimos “senhores” e “senhoras” de nós mesmos.
No espaço reflexivo proposto para pensarmos a Psicologia, vamos abrir uma possibilidade de pensarmos sobre as muitas “tranqueiras” ou “conteúdos” obsoletos e rotos que podem estar guardados, apegados e (in)esquecidos no “quartinho da bagunça” de cada um de nós. Alguns guardam um “quartinho da bagunça” mais soterrados, com muitas dores guardadas, até esquecidas…outros, já trazem um “quartinho da bagunça” menos sofrido e entulhado. O processo de psicoterapia de cada cliente é também um processo único, e irá até onde cada pessoa esteja disposta e disponível à mexer para organizar a sua Casa.