Sexualidade feminina

Por Polyana Luiza Morilha Tozati em

Sexualidade feminina

A sexualidade talvez seja o “espaço de encontro” humano mais falado e fadado ao uso abusivo dos meios de comunicação, e ao mesmo tempo o mais inexplorado espaço de possibilidades de crescimento e enriquecimento humano.

Por sua vez, a feminilidade, talvez seja a porção humana mais estereotipada e menos respeitada e compreendida na cultura humana. A partir desta constatação, mesclem-se estes dois desconcertantes termos “Sexualidade feminina” e surgirá um tema um tanto quanto controvertido. Conflitos e equívocos serão inevitáveis… tratar de feridas psicológicas, (des)encontros afetivos e muitas frustrações serão decorrentes.

Outro risco ainda se faz presente, causando danos tanto ao ser quanto à humanidade, ou seja, a perigosa separação entre corpo e afetividade, afastando a sexualidade do terreno da amorosidade, exilando-a no território meramente físico e sensorial.

A partir desta breve introdução com o intuito de singela sensibilização, é possível adentrar no delicado e profundo universo da sexualidade feminina. Para esta jornada é preciso mergulhar nos tantos mistérios do espírito humano, liberta-los e redescobri-los…não esquecendo que as prisões instalam-se primeiro no território da Alma. Estas amarras humanas vão sendo tecidas ao longo dos anos, envolvendo o corpo como uma segunda pele, capazes infelizmente de impermeabilizar o toque, inviabilizando entregas, enclausurando o ser em suas próprias muralhas.

São os sentimentos e as vivências psicológicas que envolvem a sexualidade, por isso desnuda-los permitirá o acesso ao mundo dos desejos, sejam físicos e/ou emocionais. A pele emocional humana, portanto é formada pelas histórias que contaram as mães e avós sobre sua própria feminilidade. É no colo das muitas mães humanas que se inscreve o destino de gerações de mulheres, plenas ou tolhidas, libertas ou aprisionadas. Faz-se urgente, portanto resgatar a “linhagem materna”, para compor a identidade feminina, desvendar como estas ancestrais psíquicas viveram sua própria sexualidade, seu corpo, suas possibilidades de acessar as emoções, enfim suas permissões interiores para viver.

São as mães psíquicas que tecem as asas e definem a extensão dos vôos de cada mulher e cabe a cada mulher desvencilhar-se, assumir seus vôos, exercitar suas asas e explorar e desvendar seus espaços interiores para expandir seus horizontes exteriores.

Conhecer as feridas femininas familiares e culturais, tatuadas na pele, no corpo e na alma, pode conduzir à cura. E essas feridas humanas e da humanidade, sangram frente à abusos, assédios morais, rejeições, exclusões, segregações e humilhações. Feridas doem quando são tocadas, gerando carapaças que matam o corpo e que temem o toque. Feridas menores, talvez menos abusivas, também blindam o corpo, machucam e impossibilitam verdadeiros encontros corporais e afetivos.

Neste contexto de análise não se pode esquecer das feridas culturais, pois elas também enclausuram e são numa escala maior, as histórias contadas a partir da história das mulheres de todos os tempos, suas lutas, frustrações e conquistas, inscritas na memória do mundo, atemporal e eterna. Inscritas na psique de toda e cada mulher contemporânea que traz na alma os traços das deusas pagãs, das heroínas cristãs, das vítimas historicamente oprimidas, das guerreiras e das mulheres incansavelmente em busca de sua totalidade humana.

Logo, a feminilidade é sinônimo de riqueza, de multiplicidade emocional, de retalhos de vivências pessoais e transpessoais, que co-habitam com os fragmentos psicológicos de si mesmas…fragmentos da menina que ainda sonha escondida e esquecida nas memórias do passado, da adolescente que se rebelou ou que nunca ousou rebelar-se…da mulher que ansiou ou ainda anseia pelo encontro com o homem almejado, que a tornará completa…fragmentos da futura mãe que sonhou amar incondicionalmente e da mulher que aspirou amadurecer e finalmente, ser feliz. A mulher traz em si, tantos ideais femininos, aspirações de plenitude, frutos de muitas (in)congruências humanas, históricas e culturais.

Para libertar o corpo e a alma feminina, faz-se imprescindível acolher a menina, a adolescente, a mulher, a mãe…estas facetas fragilizadas da psique feminina individual, integrando-as e libertando-as junto com as deusas, as mártires, as guerreiras , enfim a psique cultural e por fim integrá-las à psique feminina ancestral, as mães e avós de ontem até alcançar as mães e avós do amanhã, as culturas do porvir, resgatando o Feminino enquanto gênero, mas acima de tudo enquanto princípio feminino, capaz de colocar-se com dignidade, inteireza, igualdade e complementaridade com o princípio masculino, no afã de construir uma vivência da sexualidade libertária para todos os seres humanos, recolocando-a num contexto de respeito, troca, amor, cumplicidade e real intimidade.

Reconhecendo a necessidade do respeito humano e da justiça, não se pode esquecer que feridas igualmente foram impostas aos homens, enquanto gênero e princípio, que também deturparam, fragilizaram e corromperam sua sexualidade, afastando-os de si mesmos e de seus encontros afetivos.

Resgatar, portanto a sexualidade humana com plenitude, redimensionando o “espaço de encontro” humano, tecendo nas tramas da alma e da história um novo paradigma de amor, alicerçado na Consciência Humana, do “ser integral” efetivamente inserido, “partícipe” e digno de uma nova Consciência.