Depressão em adolescentes e jovens

Por Polyana Luiza Morilha Tozati em

Depressão em Adolescentes e Jovens

Artigo para um Jornal Folha da Serra – SBS/SC – 30/09/2016
Motivado pelo suicídio de mais um adolescente,
vítima de estado depressivo
À seguir transcrição literal da reportagem:

Uma das doenças que vem assustando pais e que é muito difícil de ser diagnosticada é a Depressão, que está atacando cada vez mais jovens e adolescentes. Muitas perdas já foram registradas, e se os responsáveis pelos adolescentes não prestarem muita atenção, muitos ainda serão vitimados, isso porque os sintomas e sinais da doença não são percebidos com muita clareza, e muitas vezes são confundidos com sintomas da própria adolescência.
A psicóloga Polyana Tozati fala dos sinais e sintomas da depressão nesta faixa etária (capa)

Depressão na adolescência: fique de olho nos seus filhos (reportagem)

Recentemente, mais um família são-bentense perdeu um filho de forma trágica, vítima da depressão. O rapaz adolescente ainda, iria no psicólogo na semana seguinte, porém a tragédia veio antes. Este é apenas mais um dos diversos casos de depressão em jovens e adolescentes registrados na região.
O pai, transtornado pela perda, falou ao final do velório sobre a doença, difícil de ser percebida: “Aqui deixo um pedaço de meu coração, vamos lutar para que em breve não estejamos novamente chorando a perda de um parente ou um amigo por causa da percepção, os sinais são quase imperceptíveis, portanto prestemos mais atenção em quem amamos”, lamentou.

Mas afinal, como podemos perceber se alguém está com depressão, se os sinais são muito discretos?
O Folha conversou com a psicóloga Polyana Luiza Morilha Tozati, que é psicóloga com 29 anos de experiência clínica, com especializações em Psicologia Junguiana, Análise Bioenergética, Psicoterapia Corporal e Psicologia Transpessoal, para que falasse um pouco da doença, principalmente em jovens e adolescentes.

Segundo ela, falar sobre depressão é entrar em contato com perdas, dores (in)esquecidas e solidão, existentes em cada um de nós. É desnudar um perigo invisível, que cresce sorrateiro na alma das pessoas e as lança, sem aviso, em um universo sombrio, de dores sem explicações aparentes e com indagações angustiantes.

Porém, apesar de dolorosas, há perdas necessárias e outras implacáveis, inerentes a jornada da vida. São potenciais geradores de crescimento e cada fase e cada estação traz seus ganhos e suas perdas, são como “Travessias” que trazem incertezas e propõe desafios. Mas é preciso compreender que estas “passagens”, podem vir acompanhadas de tristezas…mas não necessariamente de Depressão.

Para ela, a Depressão surge quando no redemoinho destas “travessias” inevitáveis, existe no fundo da alma, feridas emocionais profundas, histórias familiares mal resolvidas, decepções afetivas, emoções guardadas e caladas por anos à fio ou ainda, quando há uma sucessão de negligências que as pessoas se impõem, esquecidas de si mesmas, de suas próprias necessidades, para cuidar dos outros, dos negócios e/ou da família. A depressão, portanto, pode surpreender a todos: pessoas fortes, que lutam, que tem garra e que, na maioria das vezes se esquecem que tem o direito de adoecer, de se cuidar e de acolher e superar suas dores.

Em se tratando do período da adolescência, o grande momento de transição para a vida adulta, estas perdas são muitas e profundas. Uma difícil travessia, na qual os brinquedos da infância perdem sua habilidade de entreter; os pais, antes heróis, tornam-se apenas seres humanos falíveis e o corpo, em franca transformação, apresenta-se novo a cada dia, muitas vezes, diferente daquele “sonhado” pelo adolescente.

Estes chamados “lutos da adolescência”, como se já não fossem difíceis o bastante, misturam-se, ainda, a desafios e cobranças constantes, à escolha da profissão e a todo o cenário de competitividade que ela traz, incluindo o momento do vestibular, a necessidade de manter-se financeiramente e de galgar uma independência pessoal. Presentes, também, nesse momento de profunda transição estão as escolhas afetivas e a necessidade de corresponder às expectativas dos adultos significativos da sua vida. Diante desse universo tão caótico, trancar-se no quarto, preferir o silêncio e amparar-se em seus iguais, parece inevitável.

Então, resta perguntar: em que momento as ditas características da adolescência ganham contornos preocupantes? Quando este isolamento se torna um indicativo de depressão? Quando a travessia ultrapassa o limite do desafio e transforma-se em perigo?

sinais importantes, que na literatura médica recebem o nome de sintomas. Esses sinais podem se manifestar de formas distintas em cada adolescente. No universo psicológico, podem se manifestar como a perda do encantamento, ou seja, quando os apelos saudáveis da juventude já não cativam ou surpreendem e o tédio envolve situações antes empolgantes para o jovem. Quando o isolamento surge mais acentuado do que as esquivas habituais. Quando crises de choro e angústias se tornam cotidianas e, distrações, esquecimentos, notas baixas, acrescidas de apatia e desmotivação, passam a gerar o sofrido ciclo de cobranças e conflitos familiares.

Passíveis de cuidados estão ainda, a irritabilidade, impaciência com alterações de humor mais intensas do que as naturais na adolescência. Como consequência desse quadro de sintomas, a autoestima do jovem também tão oscilante, tende a manter-se negativa. A ânsia do porvir e a crença no futuro, que geram temor e inspiração, transformam-se em ameaça e evitação.

Segundo Polyana muitas vezes, o jovem começa a apresentar comportamentos autodestrutivos, envolvendo-se em situações de risco físico e/ou social. Comportamentos de certa forma, banalizados pelos adultos, como meios de “chamar a atenção” e que em alguns casos pode realmente ser, mas sendo esta a intenção inconsciente, caberia perguntar porque este jovem precisa de tamanho apelo para conseguir esta atenção? Então, importante seria retomar a antiga máxima de optar por excesso de cuidados do que correr o risco de perder o adolescente por negligência. Pesquisas explicitam um índice bastante expressivo de suicídios na adolescência, logo, é necessário estar atento.

Frente ao exposto, constata-se que a depressão na adolescência traz um grande desafio para os pais e adultos que convivem com o jovem. É comum que os pais encontrem-se igualmente confusos com as mutações da adolescência e sintam-se, tantas vezes, perplexos com tamanha instabilidade no comportamento de seu filho. Aguçar a percepção, redobrar a observação e exercitar a sensibilidade são recursos indispensáveis para decifrar o enigma do possível quadro depressivo do adolescente.

Colocar-se disponível em tempo e acolhida, com paciência e perseverança, envolvendo o adolescente em um ambiente desprovido de censuras excessivas e críticas, incentivando- o a falar “o que sente” e “como se sente”, pode trazer efeitos positivos para todos os lados envolvidos e amenizar a angústia que o mundo dos adultos causa nos jovens. A sensação de segurança e confiança pode abrir as portas da clausura e ser um facilitador ao pedido de ajuda.

Para acolher uma pessoa que esteja sofrendo com a doença chamada depressão, seja criança, adolescente ou adulto, faz-se necessário desnudar-se dos preconceitos que tornam o paciente cada vez mais solitário. Superar estigmas de “fraqueza”, “falta de empenho” e “má vontade”, rótulos colocados, de maneira inconsequente, em seres humanos que já convivem com a culpa e autodepreciação. Vale lembrar que o acolhimento começa com a compreensão, a empatia, a presença afetiva e o envolvimento emocional e que encaminhar uma pessoa para avaliação profissional, consciente de sua fragilidade momentânea, constitui um ato de amor.

A depressão, em síntese, é uma doença tecida nas profundezas da alma, permeada por perdas, dores, feridas emocionais não tratadas, abafadas em silêncios e em tentativas de esquecimento como forma de estancar as dores emocionais. A hereditariedade orgânica e também a emocional participam da formação deste quadro.

Desfazer este intrincado nó, exige um trabalho em equipe, composto pelas pessoas que convivem e se importam com o paciente, juntamente com o profissional devidamente qualificado para oferecer ajuda especializada, complementou. É muito importante para o processo de superação da depressão, que paciente e familiares confiem no resultado que a competência técnica, associada à medicação adequada e ao trabalho psicoterapêutico podem trazer a vida, tornando-a mais plena e feliz. Enfatizando a reverência que todos os envolvidos devem ter ao se aproximar das sutilezas e fragilidades de uma pessoa ferida, conforme elucida Stephen Covey: “Tocar a alma do outro ser humano é andar em território sagrado.”

Polyana acrescenta: há muito preconceito em relação a depressão, que ainda é taxada de “frescura”. Muitos pacientes sentem vergonha por estarem deprimidos, muitos dizem preferir ter uma doença física, visível e aceita, a ter esta doença tão incompreendida, destacou. Aceitar que seu filho adolescente pode estar deprimido é muito doloroso e identificar a doença também não é fácil, pois algumas características da adolescência são muito parecidas com sintomas de depressão, complementou. Sempre é preferível errar por preocupar-se demais do que por estar sendo negligente, defendeu Polyana.

Ainda segundo a psicóloga, a transição de adolescente para adulto é difícil, pois esse adolescente precisa se reestruturar, se reinventar. Todos passamos por isso, mas poucos se lembram como é uma fase difícil da vida, citou. Para ela, o adolescente normalmente se vê como onipotente, ou seja, ele pode tudo e nada acontecerá com ele. No adolescente surge um sentimento de onipotência, necessário para lhe dar forças para atingir a vida adulta, mas que se mal conduzido leva o jovem a uma crença mágica de que nada de ruim pode acontecer com ele(a), ou seja, nem gravidez, nem se tornar viciado, nem morrer por exceder velocidade, afirmou. Quem sentir alguma mudança estranha no comportamento de seu filho, por menor que seja, deve procurar ajuda profissional. Temos muitos profissionais qualificados para detectar a doença, converse com o psicólogo de sua confiança, finalizou.