Adoção consciente

Por Polyana Luiza Morilha Tozati em

O presente resumo foi realizado a partir da compilação e transcrição literal de trechos do livro Vinte coisas que filhos adotados gostariam que seus pais adotivos soubessem, de Sherrie Eldridge (São Paulo, Globo, 2004).

A intenção é a de inspirar e instigar, convidando os interessados a efetivamente lerem o livro, pois um resumo não consegue abranger todas as reflexões e sutilezas que as percepções da autora nos levam a vislumbrar e tocar. Conforme nos explica a autora:

“Acho que o conhecimento dessas dinâmicas de adoção é essencial para todo pai adotivo, pois quando você deparar com elas não ficará chocado, vai saber com o que a criança está se debatendo e será capaz de entrar em contato com ela de modo eficaz sem encarar seu comportamento como rejeição pessoal.” (p. 102)

O livro possibilita um despertar para as feridas das crianças adotadas, fazendo-nos imergir em seu desamparo, sensibilizando-nos para desenvolver vínculos afetivos com suas dores para, juntos, curá-las.

Ou seja, longe da intenção de buscar problematizar ou estigmatizar as famílias que se entregam a este nobre desafio, a proposta é a de acolher os pais e ajudá-los a estarem com seus filhos na viagem rumo a sua independência, autonomia e integridade:

            “Toda criança precisa de um companheiro de viagem – alguém mais forte e mais sábio para ajudá-la a vencer os medos da infância e alcançar a maturidade. Alguém que saiba quando validar uma emoção e quando reagir de maneira serena. Alguém que ofereça empatia e a incentive a almejar mais alto. Alguém que esteja já disponível para ela, não importa o que aconteça.    Idealmente, o companheiro de viagem é um pai/mãe saudável – alguém que tenha trabalhado seus próprios problemas como o abandono e portanto não projete sua dor não-resolvida na criança. Quando você é capaz de ser emocionalmente presente para seu filho, pode tornar-se seu companheiro de viagem e ensiná-lo a abordar suas casas assombradas interiores, cheios de medo primal.” (p. 137)

            A autora ainda nos entrega uma carta, preparando nosso sentir para esta grande viagem de sensibilidade e amor:

Carta de Direitos do Adotado

Tenho direito de me sentir confuso.

Quem não se sentiria? Afinal, tenho duas configurações de pais, uma das quais foi mantida em segredo.

Tenho o direito de temer abandono e rejeição. Afinal, fui abandonado por aquela com a qual tinha maior intimidade.

Tenho o direito de aceitar minha dor. Afinal, perdi meus parentes próximos na idade mais precoce possível.

Tenho o direito de lamentar.  Afinal, todos os demais na sociedade aceitam ter emoções fortes.

Tenho o direito de expressar minhas emoções. Afinal, elas foram trancadas desde o dia da adoção.

Tenho o direito de pedir quaisquer informações sobre meus registros médicos. Afinal, é meu corpo e minha história e isso afeta meus filhos e os filhos deles. (p. 190)

Bem vindos aos ideais e ideias de Sherrie Eldridge:

A ADOÇÃO AOS OLHOS DE UMA CRIANÇA

 

01 – “PERDAS OCULTAS.”

            “A verdade é que o próprio ato da adoção se baseia na perda.”

            “Para os pais biológicos, a perda de seu fruto biológico, da relação que poderia ter existido, de uma parte real deles mesmos. Para os pais adotivos, a perda por não terem um filho biológico, a criança cujo rosto jamais vai refletir o deles. E para a criança adotada, a perda dos pais biológicos, a primeira experiência de pertencer e ser aceita. Negar a perda da adoção é negar a realidade emocional de cada um dos envolvidos.” (p. 14 e 15)

“A perda para o adotado é ‘diferente de outras perdas que podemos esperar sofrer na vida, como a morte e o divórcio. A adoção é mais difusa, menos reconhecida socialmente e mais profunda.” (p. 15)

“Lamentar é a reação natural à perda, e os envolvidos na adoção devem ter a permissão de rever emocionalmente o local da perda, sentir a dor, gritar a raiva, chorar as lágrimas, e então se permitirem ser amados pelos outros. Se for mantida sem solução, essa dor pode, e com frequência faz isso, sabotar a mais forte das famílias e o mais profundo potencial dentro da criança adotada. Pode minar o mais sincero compromisso dos pais e forçar os adotados a sofrerem sozinhos, alternando entre a rebeldia e o conformismo como maneira de se relacionar (p. 15)

“A maioria dos adotados passa por sentimentos ambivalentes ou dolorosos relativos à adoção em algum ponto de suas vidas. Os psicólogos chamam os pensamentos e sentimentos que muitos adotados experimentam de ‘dissonância cognitiva”; especialistas em adoção chamam-nos de ‘desorientação genealógica. Os verdadeiros especialistas – os p´roprios adotados – colocam o assunto em termos mais terrenos:

– “É um vago sentimento interior de que alguma coisa está errada.”

– “Dá a sensação de que alguma parte de mim está faltando.”

– “É uma batalha imponderável entre o coração e a alma.”

– “Passei minha vida de lá para cá e nunca me senti estável.”

– “Procuro respostas que nunca tenho certeza de poder encontrar.”

– “Vejo a vida por uma ótica de rejeição, esperando que aconteça a cada esquina.” (p. 18)

O que ocorre quando a perda não é lamentada?

            “Quando a perda da adoção não é validada, verbalizada e lamentada, todos os membros da família sofrem. Alguns pais perdem o ânimo e concluem que não foram feitos para serem pais. Então, a criança adotada conclui que seu grande medo se tornou realidade: ‘Eu sou difícil de lidar mesmo e, portanto, mereço ser rejeitado.’”

            “Outra razão pela qual a perda da adoção não é lamentada é que a criança adotada pode dar a impressão de estar ‘ótima’. Mas basta conversar com vários adotados e eles confirmarão que têm construído altos muros em volta de si próprios para manter os outros à distância – muros de perfeccionismo, realizações e auto-suficiência. Eles geralmente resistem ao que mais querem e precisam.” (p. 19)

Por que adotados não falam

“Por TERROR! A maioria tem terror à rejeição. Seu raciocínio é o seguinte: ‘se eu deixar alguém ver como eu sou carente ou suscetível interiormente, ele poderá me rejeitar também, e aí como é que eu fico? Vou ficar sem ninguém.’

            (…) “Não importa o quão positivo seja seu lar de adoção, vivem com seu medo de rejeição não verbalizado.’ Os adotados precisam receber permissão para falar de seus sentimentos de desconforto, e precisam ser explicitamente convidados e estimulados a fazê-lo.” (p. 20)

Outro motivo pelo qual os adotados não falam é eu a dor que acompanha a perda é difusa, sutil e difícil de colocar em palavras.

A falsa culpa é outro muro que muitos adotados erguem. A falsa culpa é a emoção que sentimos quando alguma coisa dolorosos acontece sobre a qual não temos controle, mas pela qual nos sentimos responsáveis. (p. 21)

Há esperança

            “A perda da adoção não-resolvida não é uma montanha inacessível! Adotados de qualquer idade podem aprender a se ligar emocionalmente aos outros e construir relacionamentos saudáveis. Quando você compreende os desafios que podem estar à sua rente e como vencer bem esses obstáculos com seu filho adotado, pode ter todos os motivos para esperar por um filho e uma família lindos e bem-sucedidos.” (p. 22)

02 – “ENTRAR NO MUNDO DE SEU FILHO.”

Delicadas reflexões e várias orientações são oferecidas neste capítulo, no intuito de facilitar a entrada no mundo da criança adotada, mas as questões emocionais que levanta são um tanto desafiadores, uma vez que nos leva a adentrar um mundo de muita dor e sutilezas. Portanto, neste contexto, faz-se necessário advertir: “Não podemos levar os outros para um lugar que nunca fomos; a dor deles irá nos assustar.” (p. 62)

Com nossa sensibilidade desperta, podemos acolher os apelos de compreensão de nossos filhos adotados:

 

VINTE COISAS QUE SEU FILHO ADOTADO GOSTARIA QUE VOCÊ SOUBESSE

 

 03 – “SOFRI UMA PERDA PROFUNDA ANTES DE SER ADOTADO. VOCÊ NÃO É RESPONSÁVEL.”

            “A primeira coisa que seu filho quer que você saiba é isso: ‘Eu sou uma criança afligida. Eu vim parar com você por causa de uma perda – uma perda que não foi culpa sua e que você não pode apagar.’” (p. 36)

(…) “Com certeza minha perda era diferente daquela de meus amigos. Não havia um defunto, nenhum serviço funerário, e nenhum lugar vazio na mesa de jantar. Mas a pera era igualmente real, mesmo assim.” (p. 36)

Aprenda a acolher a dor – a de seu filho e a sua própria

            “A melhor coisa que você pode fazer para ajudar seu filho é lamentar suas próprias perdas que podem ter ocorrido antes da adoção – perdas como a infertilidade, aborto, parto de natimorto ou morte – e permitir-se sentir tristeza pelas perdas de seu filho e por sua incapacidade de protege-lo do que quer que tenha acontecido com ele antes de se juntar à sua família. Só assim as perdas de seu filho adotado poderão ser validadas e então lamentadas conjuntamente numa atmosfera de abertura e honestidade. Você será capaz de dizer: ‘Nós também sentimos muito que você não tenha crescido na barriga da mamãe.’ Ou: ‘A gente acha triste não poder ter estado com você no passado para tornar seu mundo mais seguro e protegido.” (p. 37)

“O que é necessário, como diz James Gritter em ‘O espírito da adoção aberta’, é uma atitude mais digna em relação à dor – uma atitude que encare a dor como um inimigo bem-vindo que embeleza em vez de destruir. Assim como um irritante grão de areia pode ser o catalisador que produz uma linda pérola dentro da ostra, também a dor da adoção pode ser o catalisador que produz uma pérola de intimidade entre os pais adotivos e a criança.” (p. 39)

 

04 – “PRECISO QUE ME ENSINEM QUE TENHO NECESSIDADES ESPECIAIS DECORRENTES DA PERDA DA ADOÇÃO, DAS QUAIS NÃO TENHO POR QUE ME ENVERGONHAR.”

            “O conceito de necessidades especiais da adoção é a chave para desencadear em seu filho a sensação de se sentir compreendido. Lá no fundo, ele sabe que tem necessidades especiais. Ah, claro que ele não diria isso com tantas palavras, mas provavelmente admitiria que às vezes se sente diferente de todas as outras crianças.

            (…) ”Seu filho precisa de alguém que possa ajudá-lo a identificar suas necessidades especiais e deixa-lo apto para uma prótese – ou seja, para o sistema de apoio emocional e relacional (família, amigos, médico, conselheiro) que conhece suas necessidades especiais.” (p. 45)

05 – “SE NÃO LAMENTAR MINHAS PERDAS, MINHA CAPACIDADE DE RECEBER AMOR DE VOCÊ DOS OUTROS FICARÁ COMPROMETIDA.”

            A lamentação traz a cura

            “Lamentar é necessário, pois o pesar é uma reação natural à perda. É o caminho que o coração encontra para curar a si mesmo. É para a alma aquilo que uma febre é para o corpo.” (p. 58)

            Como a adoção é uma jornada para a vida inteira e as memórias sensoriais da perda original serão desencadeadas ao longo por perdas subsequentes, o adotado precisa aprender a ficar à vontade com seus próprios sentimentos durante várias fases da vida. Em tempos de tristeza, ele deve deixar as lágrimas correrem. Em tempos de abandono de abandono/rejeição/traição, deve verbalizar sua raiva e seu pesar. Nunca deverá reprimir isso. (p. 59)

            A adoção é um tipo especial de perda e que a lamentação é uma reação natural e necessária.

            O pesar é um processo e os psicólogos diferem em suas explanações, teorias e termos para descrevê-lo. A renomada autora Elisabeth Kübler-Ross descreveu o processo da lamentação em estágios – negação, raiva, barganha e aceitação. Outros como John Bowlby, um importante pesquisador e e professor na área de desenvolvimento da personalidade, define-o por meio de fases. Embora essas duas abordagens possa ser satisfatórias para a maior parte das perdas, há outras abordagem que me parece mais adequada à perda da adoção.

            William J. Worden, professor de psicologia na Harvard Medical School, ensina o conceito de tarefas ao examinar o processo do pesar. Sua abordagem implica que que o pesar pode ser influenciado por intervenções externas e que existe algo que aquele que lamenta pode fazer. (p. 59)

            As terapeutas Holly Van Gulden e Lisa M. Bartels –Rabb no livro ‘ Pais reais, filhos reais: ser pai de uma criança adotada’, dizem que o distanciamento é uma forma de passividade que as crianças o exibem como reação ao pesar não resolvido. ‘Comportamentos de distanciamento incluem uma aparência pessoal pobre – roupas e higiene – que levam uma criança a estragar roupas novas ou simplesmente dar um jeito de ficar sempre suja. Inconscientemente ela espera que o motorista do ônibus escolar e os professores pensem que sua família adotiva é pobre ou negligente com ela.’

            Uma mulher de meia-idade comentou: ‘A criança órfã dentro de mim sente-se confortável sozinha e sem vínculos.’

            Deixe-me acrescentar a esta altura que nem todos os adotados têm problemas em criar vínculos. Segundo o especialista em vínculos Gregory C. Keck, Ph.D., num artigo ‘Jóia entre jóias – notícias sobre adoção’: ‘Distúrbios na criação de vínculos e adoção não estão necessariamente ligados. A maioria dos dotados não tem distúrbios na criação de laços afetivos. Mas muitas pessoas que têm esse distúrbio são adotadas. As pessoas costumam falar sobre a adoção como se fosse um diagnóstico, e não uma condição ou status. Isso me preocupa. Provavelmente todos nós tivemos problemas de vínculos e separações em nossas vidas.’ (p. 60)

            A abordagem por tarefas do dr. Worden parece sob medida para o pesar da perda da adoção, pois envolve os pais em conversas precoces com os filhos, o que por sua vez facilita a expressão do pesar. Ela aproxima os pais da realidade do bebê ou da criança e minimiza a inclinação do adotado para a passividade (tendência a desistir).

            Supondo que a abordagem do pesar feita por Worden seja um bom modelo para muitos adotados, vamos examinar mais de perto o método:

As quatro tarefas do pesar

Primeira tarefa: aceitar a realidade da perda, e parte dela é acreditar que um reencontro com essa pessoa é impossível. (p. 62)

            A dra. McCord prosseguiu dizendo que esses fatos relativos à perda e ao pesar precisam ser verbalizados. ‘Não sou a mãe que você esperava, não tenho o mesmo cheiro dela, nem a voz. Sou uma mãe diferente, e eu amo você e não vou abandoná-lo.’

            Conforme a criança cresce e pensa num reencontro pós-adoção com os pais biológicos, talvez o melhor que os pais adotivos possam fazer para ajudar a facilitar uma superação adequada dessa primeira tarefa seja reconhecer aberta e calorosamente a existência dos pais biológicos e garantir a ela que algum dia um reencontro poderá ser viável. É claro que isso não se aplica a uma adoção aberta. Nesse caso quase sempre já existe contato com  família biológica.

Segunda tarefa: é trabalhar a dor do pesar.Se não for trabalhada, pode se manifestar em outros sintomas, como fazer cena, incendiar coisas, ser cruel com animais, apresentar distúrbios de alimentação, agressividade, depressão, suicídio e comportamentos criminosos, para citar só alguns.

            Para o adotado, sua vida psicológica está dividida em duas: antes da adoção e depois. Entre elas há um abismo profundo (do qual ele pode não ter consciência) – um local de desamparo, rejeição e perda de controle. É importante que os pais adotivos lembrem que este é exatamente o lugar em que o vínculo com você como pai ocorrerá. À medida que você for até esse local com seu filho, um vínculo irá se formar em meio à perda e ao pesar. Ir com seu filho para esse lugar vai exigir coragem e também que você faça seu próprio trabalho emocional. Não podem levar os outros para um lugar onde nunca fomos; a dor deles irá nos assustar.

Terceira tarefa: requer adaptar-se a um novo ambiente, e para adotados os novos ambientes costumam ser um desafio.

            Essa vulnerabilidade à mudança no ambiente também ocorre com crianças mais velhas que foram abandonadas. As questões emocionais, mesmo de natureza similar às de uma criança pequena, são compostas pelo trauma de deixar o que lhe era familiar. (p. 63)

            Em grupos de apoio, adultos adotados confirmam que costuma ser difícil para eles entrar em novos grupos ou assumir novos compromissos. Um homem adotado que estava desempregado confessou: ‘Toda vez que ia a uma entrevista de emprego, me sentia como se estivesse sendo olhado de novo como um candidato à adoção.’

Quarta tarefa: requer que aquele que lamenta reposicione a pessoa perdida e toque a vida adiante. Em termos de adoção, reposicionar a pessoa perdida significa permitir a si mesmo pensar na família biológica, só que desta vez decidindo retirar energia emocional dela para reinvesti-la em outros relacionamentos. Em outras palavras, o adotado não tem mais a obsessão pela sua família biológica; seus pensamentos a respeito dela vêm e vão. (p. 64)

            Cada ser humano reage e se adapta à perda de modo diferente, alguns adotados podem de fato não precisar lamentar. Para a maioria, no entanto, uma lamentável saudável irá permitir-lhes ser mais íntegros e íntimos com os outros. (p. 69)

            A lamentação é o processo que muitos adotados devem atravessar a fim de que a cura e a liberdade aconteçam. Mas saiba que sobre a ferida do pesar há uma fina camada de raiva. Fique atento…você pode se tornar o alvo dessa raiva! É importante que você aprenda a ajudar seu filho a processar sua raiva sem tomar isso como algo pessoal. (p.70)          

06 – “MEU PESAR NÃO RESOLVIDO PODE VIR À TONA COMO RAIVA DE VOCÊ.”

            O dicionário define raiva como ‘um forte sentimento de desprazer e beligerância despertado por alguma ofensa, real ou imaginária.’ Nos termos da adoção, o adotado se sente ofendido de modo primal. Mesmo que uma criança não seja capaz de processar conscientemente sua dor e relação ao abandono, lá no fundo fica a pergunta: ‘Como é que uma mulher pôde carregar um bebê na barriga por nove meses e depois simplesmente desistir dele?’ (p. 72)

            Paradoxalmente, essa sensação de injustiça convive no coração do adotado com um amor e uma lealdade misteriosos pela mãe biológica. (p.72)

            O maior indicador de que uma criança tem uma lealdade oculta para com a mãe biológica é sua resistência em relação à mãe adotiva. Nancy Verrier, palestrante conhecida internacionalmente, autora e mãe adotiva, explica em ‘A ferida primal’: ‘É a experiência real de abandono do adotado que faz com que projete a mãe que o abandonou na mãe adotiva. Afinal, ela está lá, disponível, enquanto a mãe biológica não está.’

            A raiva é uma emoção complexa, para dizer o mínimo. Pode ser reprimida, dirigida para outro objeto ou projetada em outra pessoa. Assim, a raiva é composta por várias mensagens emaranhadas. Ao lado da mensagem central ‘eu fui ofendido’ há outros pensamentos ocultos na mente dos adotados. (p.74)

            ‘Mamãe, por favor, volte!’

            A raiva do adotado, na maioria das vezes, cresce até virar fúria – fúria primal – que, eu acho, começa na hora em que a mãe biológica deixa de estar presente. Verrier explica em seu livro: ‘Estou falando sobre uma raiva esmagadora que parece vir do nada e que explode numa cena ou é enterrada deixando a pessoa entorpecida. Estou falando de fúria infantil. A fúria parece tão poderosa para quem supõe que ela esteja escondida em seu interior que a pessoa muitas vezes nem chega a senti-la. Já outras pessoas parecem estar com raiva de tudo e de todos…’ (p.74)

            ‘Estou sozinho’

            Outra mensagem por trás da raiva do adotado é ‘Estou sozinho’. A solidão é a emoção do isolamento. É o sentimento vazio de que a conexão com alguém próximo foi rompida.

            Nesse sentido, muitos adotados sentem raiva de sua mãe adotiva porque ela não foi sua ‘mãe da barriga’. Eles perderam a proximidade com ela, e sentem sua falta. (p.75)

            ‘A culpa é sua’

            Pais adotivos, especialmente as mães, costumam aguentar o tranco da raiva do adotado, pois estão presentes. É mais difícil ficar com raiva de alguém que é um mistério (a mãe biológica). Embora a adoção possa alimentar uma raiva profunda pela mãe-biológica, muitas vezes não tem consciência disso. (p.75)

            Eu tinha raiva de minha mãe adotiva por não tocar no assunto da adoção abertamente comigo. Tinha raiva de que o assunto da adoção a deixasse incomodada. Ficava com raiva por ela me ridicularizar sempre que eu mostrava raiva ou emoções intensas. Sentia raiva por ela tratar a minha questão de adoção levianamente. Como ela era incapaz de me ajudar a processar minha perda e meu pesar, acabei culpando-a por isso. Ela não era responsável por minhas perdas, mas eu precisava que ela ouvisse os clamores mais profundos de meu coração. Ela não conseguia, e isso me enraivecia. (p. 76)

            ‘Preciso proteger-me contra outras perdas’

            Esse costuma ser um pensamento inconsciente, mas ele fica evidente no adotado que deixa sua mãe adotiva chegar perto o suficiente paa ser ‘quase’ uma mãe, mas não inteiramente.

Quando uma mãe adotiva sente esse muro de separação (distanciamento) criado pela repressão e pelo pesar não resolvido, é provável que o interprete como rejeição e então se sinta mais insegura em seu papel de mãe. Desse modo, suas inseguranças são percebidas pela criança como rejeição, e assim o ciclo de separação continua. (p. 76)

            Como a raiva do adotado se manifesta

            Betty Jean Lifton, PhD., autora e palestrante internacionalmente conhecida, analisa em ‘Jornada do self adotado’: ‘A raiva, o outro lado da depressão, está sempre pronta para brotar no adotado…a raiva que os adotados acumularam ao longo dos anos pode irromper como uma fúria incontrolável. Existe a raiva não expressa por serem adotados; a raiva por serem diferentes; a raiva por não poderem conhecer suas origens; a raiva por não poderem expressar seus reais sentimentos dentro de uma atmosfera familiar de negação. Quando esta raiva se acumula numa criança aolongo dos anos, pode vir a se manifestar como agressão – roubar, atear fogo, destruir propriedades – e, se não for resolvida, como violência. (p.77)

            A mãe biológica Carol Komissaroff, em seu excelente artigo ‘O adotado raivoso’ para a Kinquest, Inc., relata: ‘A única diferença entre a raiva do adotado e qualquer outro tipo de raiva é que o adotado raramente fala em casa abertamente sobre sua raiva relacionada ao fato de ser adotado. Por quê? Primeiro, porque é uma prática ruim você morder a mão de quem o alimenta. Segundo, porque deixa os pais incomodados. Assim, eles  armazenam e deixam-na sair de outras formas, algumas delas anti-sociais.’ (p.79)

            O que desencadeia a raiva do adotado?

            Acredito que há dois sentimentos básicos que desencadeiam a raiva do adotado: rejeição e medo.

            Rejeição percebida: sem dúvida, a raiva se acende toda vez que o adotado percebe rejeição ou invalidação – sempre que há uma falta de respeito e lhe é passada a seguinte mensagem: ‘o quanto você vale não é problema meu.

            Para minimizar o impacto da rejeição, muitas pessoas adotadas podem fantasiar que foram roubadas ou compradas e que seus pais biológicos ainda a estão procurando. Esta fantasia pode intensificar a raiva contra seus pais adotivos.

Outras no entanto, podem desenvolver uma fantasia destrutiva, ao acreditarem que ‘foram colocadas à disposição para adoção porque havia algo de errado com elas.’ Demonstrando raiva por si mesmas. (p.80 – 81)

O que os pais podem fazer

Tranquilize seu filho – Enfatize para seu filho a verdadeira razão do seu abandono. Assegure-lhe de que não foi colocado para adoção por ter algum defeito, mas por causa da incapacidade de seus pais biológicos de atuarem como pais. A maneira como ele encara seu abandono é vital. (p. 81)

– Dê-lhe permissão de sentir raiva – Ao verbalizar que não há problema nenhum em ter raiva, você ajuda a evitar que seu filho reprima a raiva e o coloca no caminho da cura.

– Procure um profissional competente – Acredito que toda criança pode se beneficiar do aconselhamento para lidar com seus desafios. Mas seja cuidadoso ao escolher, pois muitos conselheiros não estão preparados para tratar de questões de adoção.

– Aproveite as terapias criativas – (p.83)

07 – “PRECISO DE AJUDA PARA LAMENTAR MINHA PERDA. ENSINE-ME A ENTRAR EM CONTATO COM MEUS SENTIMENTOS A RESPEITO DA MINHA ADOÇÃO E ENTÃO VALIDE-OS.” (p. 84 – 95)

08 – “O SIMPLES FATO DE NÃO FALAR SOBRE MINHA FAMÍLIA BIOLÓGICA NÃO QUER DIZER QUE EU NÃO PENSE NELA.” (p. 96 – 106)

            Todas as crianças têm um lugar secreto onde podem alimentar a fantasia de terem pais melhores que os seus, quando ficam decepcionadas com eles. Freud chamou isso de romance familiar. No entanto, mais tarde, quando a criança não adotada chega a aprender e aceitar que seus pais têm características tanto positivas como negativas, a fantasia cessa.

            Isso não é tão simples para a criança adotada. O adotado tem de fato outra configuração de pais em algum lugar. As fantasias do adotado começam quando ele fica sabendo que é adotado, e são tanto positivas como negativas. (p.96)

            Em algum lugar, bem dentro de seu coração, ficam as perguntas: ‘Onde está minha mãe biológica agora? Onde está meu pai biológico? O que será que estão fazendo?’

            É vital ter em mente que não existe essa mentalidade de ‘nós e eles’ no mundo da criança adotada. Os pais biológicos sempre foram e sempre serão parte de seu mundo, quer elas admitam isso ou não. Somos nós, os adultos, que às vezes erguemos muros de competitividade e possessividade na relação com nossos filhos.

            Eu compreendo que este é um assunto difícil para alguns pais de adoções fechadas e semi-abertas. Você pode achar ameaçador iniciar uma conversa sobre a família biológica. Mas ela é essencial para você se afinar com o mundo secreto de seu filho. (p.97)lll

09 – “EU QUERO QUE VOCÊ TOME A INICIATIVA DE CONVERSAR SOBRE MINHA FAMÍLIA BIOLÓGICA.”

Compreender a postura de vítima

            “Há três aspectos na postura de vítima: inocência, desproteção e desamparo. Eles são evidentes na percepção do adotado depois do nascimento e dali adiante, antes que a cura venha a curar:

– Inocência: O adotado não tem culpa se a mãe dele engravidou. Não tem culpa se a mãe, não importa o motivo, não pôde ficar com ele. A criança não merece perder sua família no nascimento. Ela é a parte inocente em tudo isso. (p. 109)

            Mas apesar de serem inocentes, muitos adotados carregam o fardo de uma falsa culpa, mais ou menos como os filhos de divorciados. Eles podem em silêncio ficar imaginando:

– Será que eu fiz alguma coisa que deixou minha mãe brava comigo para ela me abandonar?

– Acho que ela (a mãe biológica) não gosta de mim.

– Será que havia algo errado com meu pai biológico? (p. 109)

– Desproteção: O adotado não tinha nenhum poder quando foi abandono. Não tinha como se proteger de outras feridas. Ele pode representar esses sentimentos de estar indefeso através de seus jogos, a partir de certa idade. Ficher e Watkins, em Talking With Young Children About Adoption (Conversando com crianças pequenas sobre adoção), observaram:

Uma criança de três anos tenta tirar um filhotinho de gato de sua mãe, e a mãe da criança se opõe. (p. 109)

– Uma menininha brincando de faz-de-conta monta uma cena na qual uma mulher malvada tira uma criança de sua mãe bondosa. Ela faz a criança dizer à mulher malvada, que na brincadeira é interpretada por sua mãe: ‘Se não fosse por você, eu ainda estaria com minha mãe verdadeira.’ A menina então confidencia à sua mãe adotiva: ‘É, se não fosse por você, eu ainda estaria com ela. Você veio e me levou embora’.

– Uma criança pergunta: ‘Onde está meu pai de verdade? Por que você não sabe onde ele está? Não quero que ele me encontre…ele me levaria embora…eu seria raptada por ele’. (p. 110)

Desamparo: A sensação inconsciente de desamparo pode continuar em muitos adotados pela vida inteira.

Eu tenho consciência do fato de que estas são palavras bastante duras d digerir, mas se você quer estar a par das necessidades não-verbalizadas de seu filho para poder falar com ele a respeito de sua família biológica, então deve conhecer alguns dos complexos e até assustadores pensamentos e sentimentos que ele pode manter ocultos.

Como vemos, há uma combinação de sentimentos a respeito da mãe biológica no coração de seu filho. Fantasia. Raiva. Postura de vítima. Amor. Você pode ser um recurso poderoso para ajudar seu filho a identificar e processar esses sentimentos conflitantes – ou pode ser um grande obstáculo. O que determina se você vai ser um facilitador ou um obstáculo é sua disposição e habilidade para encaminhar seu filho para uma conversa produtiva sobre sua família biológica e seus complexos sentimentos a respeito dela.

10 – “PRECISO SABER A VERDADE SOBRE MINHA CONCEPÇÃO, NASCIMENTO E HISTÓRIA FAMILIAR, NÃO IMPORTA QUÃO DOLOROSOS POSSAM SER OS DETALHES.”

            Como pai – ou mãe – você pode estar imaginando: Por que é tão importante que a criança adotada saiba a verdade sobre suas origens? Que bem isso poderá lhe fazer? Por que fazê-la passar por tudo isso?

            Carlye Marney, em Achieving Family Togetherness (Conquistando a união familiar), sugeriu que existem pelo menos 80 mil gerações atrás de cada um de nós, e que só seremos capazes de abençoar a nós mesmos ou abençoar os outros quando formos capazes de abençoar nossas origens. Marney chama esse processo de abençoar as próprias origens de ‘voltar para casa de novo’.

            Voltar para casa de novo não é um processo fácil para um adotado, pois suas origens costumam estar envoltas em segredo. Segredo a respeito de sua concepção, de seu nascimento, e segredo sobre a história familiar. Como ele pode abençoar suas origens se não sabe quais são? O

            O dicionário registra como significados de abençoar: doar algum tipo de bem; honrar, embelezar; favorecer; endossar; aceitar; perdoar. Pense nessas palavras em relação ao seu filho. Sei você vai concordar que é isso que você quer para ele. Quer que ele seja capaz de aceitar-se…favorecer-se…e em última análise perdoar aqueles que podem ter lhe proporcionado um início doloroso. Em outras palavras, você quer implantar nele uma saudável autoestima, não importa sua história passada. (p. 120)

            Podem existir muitas verdades difíceis de contar ao seu filho adotado. Talvez sua mãe biológica fosse viciada em crack. Pode haver uma história de doença mental, negligência ou abuso sexual na família.

            Jeanine Jones, mãe de sete crianças adotadas, disse num artigo em Jewel Among Jewels Adoption News (Jóia entre jóias – notícias sobre adoção): ‘Não, não é um momento alegre quando seu filho quer ver todas as informações sobre ele e você se preocupa porque aquilo que ele vai ler irá magoá-lo. É uma hora que exige honestidade, compaixão e construção de relacionamento’.

            Seu filho, na idade adequada, pode se beneficiar realmente ao ouvir informações dolorosas sobre seu passado, porque saberá que você está contando a ele a verdade, nua e crua. Crianças são mestras em detectar inverdades. Essa transmissão de informação não tem tanto a ver com a verdade sobre seu passado como tem a ver com seu relacionamento com você e com ele mesmo. Ele está aprendendo a confiar em você num nível mais profundo e também está desenvolvendo autoestima. Ele possivelmente está recebendo as informações mais escabrosas e dolorosas sobre seu passado reveladas por você, e ao mesmo tempo você está demonstrando a ele que o ama do jeito que ele é’.

            À medida que esse relacionamento de confiança e amor se aprofunda, ele pode decidir o que quer fazer em relação à opção de procurar saber mais fatos ou conhecer outros membros da família biológica.   Tanto se ele levar adiante essa procura ou não, a relação entre vocês dois terá crescido tremendamente. (p. 121)

11 – “ACHO QUE MINHA MÃE BIOLÓGICA NÃO ME QUIS PORQUE EU ERA UM BEBÊ RUIM. PRECISO QUE VOCÊ ME AJUDE A JOGAR FORA ESSA VERGONHA TÓXICA.

            ‘Mãe, eu era um bebê ruim?’, o pequeno Stephen perguntou aos pais depois que eles lhe contaram a respeito da adoção.

            ‘Tinha alguma coisa errada comigo?…Foi por isso que eles não me quiseram?…Eu era um bebê ruim?’

            Os pais atônitos com as perguntas tocantes de Stephen, tentaram recompor-se e garantiram ao filho que a ‘desistência’ dos pais não tinha nada a ver com ele. Mesmo quando explicaram que sua mãe biológica tinha só treze anos quando ele nasceu e não estava pronta para cuidar dele, ele ainda ficou em silêncio imaginando se não havia mesmo nada de errado com ele.(p.127)

            (…)Mais tarde, quando foi diagnosticado nele um defeito cardíaco congênito, convenceu-se de que a ideia que fazia de si mesmo era verdadeira, afinal: ele era defeituoso, um erro.

            Na verdade, Stephen estava lidando com a vergonha. Uma vergonha tóxica. Vergonha que grita dentro da alma: ‘Tem alguma coisa errada com você!’

            Muitos adotados têm de lidar com a vergonha. Se não houver intervenção é provável que acreditem que a razão para sua adoção foi que eles eram bebês/crianças ruins. (p. 128)

            Uma criança não tem como processar as complexas razões por trás de uma separação, é claro, e interpreta isso como abandono primal. No nível mais essencial, essa rejeição real ou percebida produz vergonha. (p. 129)

            Se seu filho foi separado de sua família biológica quando era maiorzinha, pode ter sido colocado numa situação difícil e agido como se pudesse suportar qualquer coisa. Mas sua reação de minimizar o fato, do tipo ‘Eu seguro essa barra’, pode ser apenas um artifício para esconder uma profunda sensação de fracasso:’Eles me tiraram de minha mãe porque eu era ruim. Eu devia ter sido melhor. Essa crença infelizmente costuma se instalar em crianças que foram claramente vítimas de abuso físico ou sexual por parte dos pais e foram removidas para sua própria proteção.

            Devido ao seu forte medo de rejeição, muitos adotados tentam administrar essa dor sendo bonzinhos com os outros ou então rebeldes. Se eu fizer tudo direito, eles vão gostar de mim e ficar comigo. Se eu me recusar a depender de sua aprovação, então eles não vão poder me machucar quando me rejeitarem. (p. 129)

            Em outras palavras, os pensamentos que motivam de seu filho podem estar baseados na vergonha. A não ser que você consiga trazer à luz sua vergonha ilegítima e substituí-la pela verdade, ele pode sofrer uma grande dor psíquica, viver amedrontado, ou criar um caos constante na família. Nem todos os adotados experimentam a vergonha nesse grau, é claro, mas se seu filho se mostra mais comportado ou rebelde que o normal, então é bom considerar o que pode estar levando-o a agir assim. (p. 130)

12 – “TENHO MEDO QUE VOCÊ ME ABANDONE.”

            O dicionário define medo como ‘uma emoção desagradável causada por uma dor, perigo ou mal iminentes ou pela ilusão disso’, Vejamos de que maneira adotados adultos retratam o abandono que sentiam quando crianças:

– ser deixado à margem de uma estrada;

– um bebê numa cesta sozinho num descampado;

-um berçário sem ninguém, exceto eu;

– uma criança olhando pela janela para uma família feliz numa noite de inverno;

– do lado de fora olhando para dentro;

– ser deixado para trás enquanto os outros seguem sua vida;

– um bebê chorando pela falta da mãe. (p. 135)

            Medo e abandono estão indissoluvelmente unidos, formando um grande nó na psique e no espírito da criança adotada.

            O medo não é ilusório – é uma realidade baseada na separação da mãe biológica. Além disso, a própria mãe biológica é real (ela existe), e apesar disso é também uma ilusão (o adotado não pode vê-la). Quando você pondera esses paradoxos, é de se estranhar que os adotados lutem tanto contra o medo??(p. 136)

            Assim, um dos desafios como pai/mãe adotivo/a é convencer seu filho de que vocês estarão sempre disponíveis para ele mesmo quando não puder vê-los. Vocês terão de arrumar maneiras criativas de colocar isso em prática, específicas para o temperamento dele e sua situação particular.p.136)

 

13 – “POSSO PARECER MAIS ‘ÍNTEGRO’ DO QUE SOU NAVERDADE. PRECISO QUE VOCÊ ME AJUDE A REVELAR AS PARTES DE MIM QUE MANTENHO ESCONDIDAS PARA QUE EU POSSA INTEGRAR TODOS OS ELEMENTOS DA MINHA IDENTIDADE.”

            O que significa integrado? O dicionário nos dá um bom indício: unido; consolidado; combinado; fundido com; misturado; coeso; incorpora partes num todo; combina ou produz uma unidade maior. (p. 140)

            Se aplicarmos essas palavras à adoção, ‘integração’ significa unir todos os elementos das identidades adotiva e biológica da criança de modo que a integridade interior possa se desenvolver.

            QUATRO ASPECTOS DA IDENTIDADE DO ADOTADO

            Segundo os psicólogos Joseph Luft e Harry Ingram, há quatro dimensões da identidade de um indivíduo:

– ‘O que se sabe de si’

            Esta é a parte que o adotado conhece de si mesmo, a parte da qual tem consciência. (p. 141)

– ‘O que se desconhece’

            Esta é a parte da identidade do adotado que ele não conhece – a parte inconsciente. Isso inclui sutis mensagens que recebeu no útero da mãe biológica, memórias sensoriais que ele carrega no nascimento e do abandono, os indefinidos medos que ainda não identificou e trabalhou. (p. 142)

‘O que os outros sabem’

            Esse componente da identidade do adotado é a parte que os outros conhecem, a parte que costuma parecer forte, confiante e no controle da situação. (p. 142)  É preciso identificar de essa força procede de uma saúde autêntica ou de uma dor enterrada.

Algumas palavras de pessoas adotadas que funcionam a partir de uma ferida aberta:

– ‘Eu assumi a identidade e o comportamento de cada grupo do qual fiz parte. Se eles agiam de determinado modo, eu também agia.’;

– ‘O que tomou o lugar de meu eu real foi meu eu substituto, aquele que se amolda e sorri e não fere a ninguém, que se adequaria muito bem à vida que meus pais adotivos construíram para mim’.

– ‘Nunca ninguém suspeitou. Eu era um jogador de futebol, durão e ríspido, modelado como uma estátua de mármore, altivo e confiante, um homão. Acho que era tudo isso, mas ao mesmo tempo, é claro, ainda era o menino que chorava até dormir por causa do final trágico de um livro.’ (P. 144)

– ‘O que os outros NÃO sabem’

            O quarto componente é a parte que o adotado escolhe não compartilhar com os outros. É a parte pessoal que cabe a ele dividir ou não, pode incluir aspectos negativos de sua história. (p. 144)

O QUE OS PAIS PODEM FAZER

– Mostre apoio e abertura incondicionais;

– Estimule-o a se abrir;

– Dê amor incondicional; (p. 145)

14 – “PRECISO ADQUIRIR UMA SENSAÇÃO DO PODER PESSOAL.”

            Existe um delicado equilíbrio que você precisa manter ao dar poder a seu filho. Às vezes você irá protegê-lo, outras vezes irá remover as coisas macias do ninho e encorajá-lo a correr novos riscos e testar suas asas. ‘Você é capaz de fazê-lo!’ ‘Você pode fazer qualquer coisa que quiser na vida.’ ‘Suas alternativas no futuro são ilimitadas’. (p. 149)

            Para ajudar seu filho a fazer a transição do passado doloroso para um futuro de esperança, você precisa ensinar-lhe a importância dos limites pessoais. Segundo os autores Henry Cloud e John Townsend, os limites são aquilo que nos define. Eles definem o que sou e o que não sou. Um limite me mostra onde eu termino e onde começa o outro. (p. 149)

            Em seu livro ‘Boundaries’ (Limites) , os doutores Townsend e Cloud descrevem três estágios d desenvolvimento dos limites: sair da casca (mamãe e eu não somos a mesma coisa), praticar (Eu posso fazer qualquer coisa!) e reaproximar-se (Não posso fazer tudo). Veremos essa abordagem aplicada à adoção:

            Os autores, antes de descreverem os limites, afirmam que um vínculo bem estabelecido é a base de toda a construção dos limites. Sem ela a base não fica firme, a sensação de segurança e de pertinência se dilui. Um bebê nesse estágio não tem sentido do self. Ele pensa: ‘Mamãe e eu somos a mesma coisa’. A partir dessa fusão inicial com a mãe, o bebê ganha sua segurança no mundo.

            Pensa um momento no seu filho. (…) O relacionamento terminou antes que ele aprendesse a confiar. Suas asas se quebraram antes que ele pudesse criar um laço com a mãe biológica e desse modo desenvolver limites pessoais numa progressão natural, você terá de intervir em vários estágios do desenvolvimento e ensiná-lo a se individuar. (p. 149)

            Jean Illsley Clarke e Connie Dawson, em seu importante livro Growing Up Again (Crescendo outra vez), sugerem sete afirmações especificamente destinadas à criança adotada:

– Vou fazer o melhor possível para me conectar com você;

– Você pode contar comigo;

– Você pode me afastar, mas não vou deixar você me mandar embora;

– Vou cuidar de você e de mim mesmo;

– Nós dois podemos dizer a verdade e sermos responsáveis por nossos comportamentos;

– Eu vou apoiá-lo para você para você descobrir o que quiser sobre sua história e sua hereditariedade;

– Você é digno de amor do jeito que é. (p. 152)

            À medida que seu filho aprender gradualmente a dar vida à sua integridade e força pessoais, você começará a preparar o caminho para abandonar uma função. Você terá dado ao seu pássaro ferido a dádiva de seu próprio poder. (p. 152)

15 – “POR FAVOR, NÃO DIGA QUE EU PAREÇO OU AJO IGUAL A VOCÊ. PRECISO QUE VOCÊ RECONHEÇA E VALORIZE NOSSAS DIFERENÇAS.”

            Cuidar com o uso de comentários que podem explicitar uma negação disfarçada do processo de adoção:

Uma negação das raízes biológicas, do nascimento e da história pré-adoção. Uma negação da própria criança. (p. 154)

            Afirmações como ‘Você é como a gente’ podem ser traduzidas pelo adotado como:

– Você precisa ser como nós.

– Seu nascimento e sua família biológica são coisas ruins.

– Você deve ser desonesto em relação às suas emoções.

– Apenas ser você mesmo não é suficiente.

            Você deve estar na defensiva agora, lembrando-se de afirmações passadas que fez com boas intenções, mas baseadas na negação. Ânimo! Seus erros não são fatais. Mas pare um pouco para repensar algumas das crenças que talvez que alimente e que podem tê-lo feito você passar, sem querer, mensagens de invalidação para seu filho.

            O que dizer então dos adotados, que não têm ancestrais para olhar, nem semelhanças físicas para curtir? Onde seu filho adotado poderá encontrar uma sensação de fazer parte no meio de um monte de pessoas numa reunião familiar, nenhuma delas parecida com ele? E os adotados a quem a professora pede para levar à escola um prato de comida típica de seus ancestrais e concluem que não têm o que levar?

            As diferenças são uma questão central quando se fala em adoção, pois podem tanto ser uma fonte de vergonha como uma chance de aprender sobre os laços do adotado com seu passado pré-adoção. (p. 155)

            Seu filho anseia em saber que não foi ‘chocado’ ou que não é um ‘alien’ na Terra. Ele compreende que veio de pessoas reais com personalidades e histórias de vida reais, que tomaram decisões que afetaram sua vida para sempre. É natural que sinta uma mistura complexa de emoções ao enfrentar o fato de que é ‘diferente’ de sua família adotiva e que aparentemente está separado para sempre de ‘seu pessoal’. Por um lado ele quer honrar as maneiras pelas quais é singular e diferente de você; por outro, anseia por uma conexão com as partes faltantes de quem ele é. (p. 155 e 156)

            Para poder dar valor às diferenças, o primeiro passo é reconhece-las. Para validar e afirmar a singularidade de seu filho, você deve realmente enxergar seu filho.  Gaste um tempo estudando-o. Não de uma maneira negativa, espiando-o furtivamente, mas com uma postura do tipo ‘você é precioso para mim’. Isso vai comunicar a ele que suas diferenças não são algo para se envergonhar, ao contrário, são coisas que despertam afeto. (p. 156)

            A doutora Betty Jean Lifton diz em Journey of the Adopted Self (Jornada do self adotado): ‘Quando os pais adotivos negam a realidade de uma diferença entre uma criança biológica e uma adotada, eles pensam que estão dando a ela a certeza de seu amor, mas estão, de fato, negando a realidade do adotado’. (p.158)

            Lebre-se, reconhecer diferenças é o alicerce para uma autoestima saudável em seu filho. Faz com que saiba que seu passado não deve ser desconsiderado, que vale a pena e que é a chave para o presente e para o futuro. (p. 159)

16 – “DEIXE-ME SE EU MESMO…MAS NÃO PERMITA QUE ME AFASTE DE VOCÊ.”

            A tarefa de individuação para a criança adotada é única e complexa, pois envolve a identidade dual mais uma vez. A cada passo que o adotado dá em direção à independência, ele fica mais consciente de seu passado pré-adoção. Para ele, ‘separar-se’ de você pode ser mais traumático, pois já foi separado contra a sua vontade de seus pais biológicos e eles nunca voltaram (exceto, claro, quando se trata de adoção aberta). O choque inicial deixou-o mais predisposto a lutar contra a separação saudável do que ocorre com o não adotado. (p. 164)

A luta pela autonomia

            Há vários sinais que irão alertá-lo para o fato de que seu filho está tentando dar outro passo para se tornar sua própria pessoa, diferente de você. Pode fazer declarações desafiadoras como ‘Minha mãe verdadeira me deixaria fazer isso’. Pode começar a pensar mais em sua família biológica: Será que iriam gostar de mim? Estou interessado em saber mais a respeito deles’. ‘Gostaria de encontrá-los’.

            Às vezes, declarações como essas são proferidas raivosamente porque a raiva costuma fazer parte do processo pelo qual uma criança adotada encara as partes de sua vida e dela mesma que perdeu. Se seu filho às vezes se mostrar hostil, você pode ficar tentado a duvidar de si mesmo e de sua capacidade de ser pai, mas resista a essa tentação! Lembre-se de que essa subelevação não tem nada a ver com você ou com sua atuação como pai, e sim com o fato de seu filho estar se conhecendo melhor. (p.166)

            Entenda que por trás desses surtos de emoções, declarações chocantes e problemas de identidade estão questões relacionadas com o passado pré-adoção de seu filho. Ele está tentando integrá-lo à sua vida presente. Ele tem uma identidade multifacetada que vai tentar alinhavar, e costuma ter dificuldade em comunicar isso. (p. 166)

17 – “POR FAVOR, RESPEITE MINHA PRIVACIDADE EM RELAÇÃO À MINHA ADOÇÃO. NÃO CONTE ÀS DEMAIS PESSOAS SEM O MEU CONSENTIMENTO.”

            Já discutimos o valor de reconhecer e elogiar a singularidade de seu filho como indivíduo, mas você deve ter cuidado para não destacá-lo da família ou torna-lo ‘diferente’ aos olhos dos outros. Toda criança quer ser apenas como as demais. Para elas, ser ‘esquisita’ é a morte. (p. 170)

            Então o que você pode fazer para ter certeza de que as diferenças de seu filho estão sendo valorizadas sem ‘rotulá-lo’ como adotado de um modo que possa prejudicá-lo? Manter isso em segredo não funciona; é reproduzir o ciclo disfuncional sustentado em muitas famílias há gerações. Mas a privacidade deve ser definitivamente respeitada. A adoção de seu filho não é algo que deve ser anunciado sem sensibilidade para sua necessidade de se sentir um membro plenamente habilitado de sua família, e para o seu direito de manter a sua história confidencial. (p. 172)

            Confidencialidade implica privacidade, intimidade e confiança. Dizer que a confidencialidade entre uma criança adotada e os pais tem uma importância vital não é exagero. É sobre essa base que se constroem confiança, comunicação honesta e liberdade de expressar pensamentos, emoções e crenças pessoais. (p.172)

18 – “ANIVERSÁRIOS PODEM SER DIFÍCEIS PARA MIM.”

            Para a criança que foi adotada mais tarde na infância, esse dia lembra a ela o dia da separação – o dia em que o passado, como ela o conhecia, cessaria de existir como era. Para o bebê adotado, a perda ocorreu antes que ele tivesse palavras para descrevê-la, mas mesmo assim foi real. A comemoração do aniversário é um gatilho, que dispara a lembrança de sua perda passada.

            Nancy Verrier conta em The Primal Wound (A ferida primal) sobre a criança adotada no nascimento: ‘Parece haver uma reação ao aniversário (também sentida pela mãe biológica), que faz muitos adotados ficarem em desespero no dia do seu nascimento…Portanto, não é de estranhar que muitos adotados sabotem suas festas de aniversário. Por que alguém comemoraria o dia que foi separada de sua mãe biológica? Os próprios adotados, é claro, provavelmente nunca entenderam por que fazem isso.

Faça perguntas ao seu filho nos dias anteriores e nesse dia especial. ‘O que você gostaria de fazer no seu aniversário?’ ‘Como é que se sente vendo o aniversário chegando?  Alguns adotados ficam tristes ou mesmo com raiva nesse dia. Você já se sentiu assim? Se for assim, tudo bem conversar com a gente a respeito. Faremos o possível para entender e ajudá-lo a lidar com essa mistura de sentimentos.’ (p.185)

            Não há nenhuma maneira infalível de prever como seu filho vai lidar com aniversários, mas pelo menos agora você vai ficar mais sensível à possibilidade de existirem necessidades não-verbalizadas. (p. 185)

19 – “NÃO PODE CONHECER TODO O MEU HISTÓRICO MÉDICO ÀS VEZES PODE SER FONTE DE TENSÃO.”

            Essa necessidade que muitos adotados têm pode ser difícil de compreender para pessoas não adotadas, mas é vital que pais adotivos e profissionais da saúde mental tenham consciência dela, pois é mais uma chave para compreender o adotado, criança, adolescente ou adulto. Para um adotado, não importa sua idade, o fato é difícil de não poder conhecer tudo sobre seu nascimento e seus antecedentes médicos pode ser um aspecto doloroso de sua existência. (p. 186)

            Quem pode garantir que o fato de não conhecer todo o seu histórico biológico será uma questão dolorosa para seu filho? Pode muito bem não ser. Lembre-se apenas que para alguns é doloroso. Ter consciência das horas em que seu filho pode se debater com essa questão vai permitir que você o ajude a lidar com essas emoções dolorosas. (p.192)

20 – “TENHO MEDO DE SER DIFÍCIL DEMAIS DE LIDAR.”

            Ao iniciar este capítulo, lembrei-me de um dos livros favoritos sobre crianças, de Margaret Wise Brown, chamado The Runaway Bunny (O coelhinho fujão. Acho que ele ilustra um dos medos ocultos do adotado: de que ele é difícil demais de lidar.

A história começa com um diálogo entre um filhotinho de coelho e sua mãe quando o coelhinho anuncia: ‘Eu vou embora’.

            ‘Se você for embora, eu vou sair atrás de você, pois você é meu coelhinho’, responde a mãe.

            ‘Se você sair atrás de mim, diz o coelhinho, ‘vou me tornr uma truta num cardume e vou nadar fugindo de você.’

            ‘Se você virar uma truta num cardume, eu vou virar um pescador e vou pescar você’, replica a mãe docemente. O livro ilustra a mãe coelha, enfiada no rio com botas até os joelhos, cesta de pesca nos ombros, a vara de pescar na mão e uma cenoura como isca na ponta da linha.

            E assim segue a história, até que o coelhinho para de fugir e diz: ‘Eu também posso ficar onde estou e ser seu pequeno coelhinho’. (p. 193)

            Alguns adotados se parecem muito com o coelhinho dessa história. Eles anunciam de várias maneiras aos seus pais: ‘Eu estou indo embora’.

            De onde vem essa necessidade de ir embora? Você pode estar imaginando. E como posso ser como a mamãe coelha, neutralizando seus medos ao reafirmar sempre meu compromisso com ele?

            Demonstre ao seu filho que você se empenha em reconhecer suas necessidades básicas e que está comprometido com ele para sempre. Diga de todas as maneiras criativas que encontrar ‘Eu estou à sua disposição’. Em pouco tempo, seu filho, como o coelhinho da história, vai procura-lo quando experimentar uma emoção intensa. E como mamãe coelha, em várias situações você poderá lembra-lo de seu relacionamento ‘para sempre’ com ele.

            Assim como o coelhinho afirmou todo rebelde ‘Estou indo embora’, acho que muitos adotados fazem a mesma coisa quase todos os dias de vários modos. Keith Reiber declara: raiva, medo, vergonha ou tristeza, são as quatro emoções básicas. Quando uma criança é magoada, fica triste. A tristeza a torna vulnerável, e ela fica com medo de ser magoada de novo. O medo também faz com que se sinta vulnerável, e então a criança encobre esse medo com raiva ou fúria. Para ajudar a criança a elaborar seu passado ela precisa estar livre para expressar suas emoções sem ser punida ou ridicularizada. Ela vai aprender que quando tem uma grande emoção (uma que ameace esmaga-la), a mamãe vai estar lá para amá-la e cuidar dela. Desse modo, ela aprende a confiar.

            Seja num casamento, amizade ou numa sessão de terapia, muitos adotados fogem das emoções fortes. Eles chegam perto do centro da tempestade (emocionalmente falando), e então correm para o lado oposto. (p.196)

            Adotados também podem fugir por dissociação. Eles se retiram emocionalmente e ficam arredios à dor. São como alguém que fica de lado, assistindo alguma coisa traumática acontecer. (p. 197)

            Como pais, vocês podem ajudar seu filho a não fugir de emoções intensas, e sim verbaliza-las e encontrar uma cura. (p.198)

21 – “QUANDO EU EXPRESSAR MEUS MEDOS DE MANEIRA ANTIPÁTICA, POR FAVOR FIQUE DO MEU LADO E REAJA COM SABEDORIA.”

            Crianças adotadas precisam ter liberdade de expressar emoções ‘antipáticas’, como raiva, ódio, fúria, solidão, hostilidade. No entanto, elas precisam também a aprender que embora emoções desagradáveis sejam permitidas, o comportamento antipático não é bem-vindo.

            Alguns adotados, quando se sentem incapazes de lidar com suas emoções, decidem expressá-la de maneira destrutiva. (p. 200)

            Lembre ao seu filho de que não há problema em expressar emoções tensas. Não só não há problema, como é crucial para que ele se torne saudável e íntegro. Mas, embora permitindo que seu filho se expresse, ensine a ele também que um comportamento antipático por si só é fútil. Valide seus sentimentos, mas não deixe que ele ‘comande o espetáculo’ em sua casa. Em vez disso, seja pai de uma maneira amorosa e forte. Isso vai ajudá-lo a amadurecer em vez de ficar empacado em suas emoções conflitantes. (p.201)

22 – “MESMO QUE DECIDA PROCURAR MINHA FAMÍLIA BIOLÓGICA, SEMPRE VOU QUERER QUE VOCÊS SEJAM MEUS PAIS.”

            As questões psicológicas envolvidas no processo de busca e reencontro, que afetam a tríade da adoção (adotados, pis adotivos, pais biológicos) são multifacetadas e intensas.

            O adotado costuma ser atraído para a excitação desse processo, como um imã. A mãe biológica pode ansiar ser incluída nele e ver o rosto de seu filho perdido. Mas os pais adotivos secretamente desejam que tudo passe logo. (p. 205)

 

 

 

            Seu filho não está procurando alguém para pôr no seu lugar, mesmo que às vezes dê essa impressão, nem está deixando de modo algum subentendido que você como pai foi insuficiente. Ao contrário, está buscando respostas. Por que fui dado à adoção? De onde vêm meus olhos azuis? Qual é meu histórico médico? Conforme fica adulto, compreende que essas informações serão interessantes não só para ele, mas para seus futuros filhos e netos. (p.210)

 

CONCLUSÃO

            A doutora Betty Jean Lifton dá uma excelente descrição da mãe de verdade em Journey of the Adopted Self (Jornada do self adotado): ‘Para mim, uma mãe de verdade é uma que reconheça e respeite a identidade global de seu filho e não lhe peça para negar qualquer parte de si mesmo’.

            Você tem aprendido a acessar o mundo de seu filho, a ser mais sensível às suas necessidade não-verbalizadas, a validar sua realidade emocional. Parabéns! Issofaz de você pai/mãe de verdade e assegura seu lugar na vida de seu filho.

 

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